19.7.12

viste-me?


Quando os meus olhos se pousaram em ti e os meus lábios se afastaram em espanto, quando as minhas pernas ameaçaram deixar de suportar o meu corpo e este ficou sólido como mármore?
Viste o rosto ao qual juraste eterna amizade, o rosto que prometeste nunca abandonar? Voltaste a sentir o meu peso nos teus ombros, as gargalhadas fortes e cheias que lançávamos contra o vento, as lágrimas choradas e abraços sentidos? 
Os gestos de amor, poucos foram. Um ou outro "adoro-te" de vez em quando, mas não precisámos de mais. Porque num olhar trocávamos todo o carinho que nutríamos, e assim ficávamos. Entre brincadeiras debaixo do sol intenso de verão e conversas intermináveis na pedra fria do chão. Assim vivemos como irmãos, sangue do mesmo sangue, carne da mesma carne. Eras o ré da minha pauta, eras a pétala da minha flor, eras a palavra do meu livro.
Eras, não. Foste. Porque rasgaste as fotos que nunca tirámos juntos, apagaste as memórias com uma borracha negra de desprezo e deixaste-me, a perguntar-me o que tinha acontecido. Porque te foste embora? Acreditei que ficarias. Acreditei nas tuas promessas sem som e juras em silêncio. 
Nunca te perdoei deixares-me assim, tão só, tão sem ti. A tentar inutilmente fingir que não sinto a tua falta, a tentar esconder o tanto que foste para mim.
Viste-me?

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