22.12.12

amo-te e...


A esses teus olhos brilhantes. À tua pele quente. Às mãos macias e dedos de pianista. Aos braços que me apertam e ao peso que me sufoca. À tua voz. Ao mel que trazes nela. Ao carinho com que me olhas. Ao teu nariz. Aos teus lábios doces. Ao teu sorriso tão belo e às covinhas nas bochechas. À barba por fazer. A cada sinal no teu corpo. Às palavras e ações. Ao amor que me entregas e à felicidade. À felicidade que tento devolver. Ao modo como me levantas no meio de um abraço. Às gargalhadas agudas. À respiração apertada. Ao bater do teu coração. Ao teu cheiro. Ao ar que respiras. À vida que trazes em ti. À tua alma. À canção que surge quando avanças para mim. Às folhas pontapeadas por distração quando andamos de mãos dadas. Aos beijos no pescoço. Às carícias na face. À tua cabeça no meu ombro e à minha no teu colo. Às estrelas por cima de nós. À chuva nos nossos rostos. Ao Outono que se foi. À música que não tocou. Às memórias que criamos e aos tempos que ainda vou passar contigo. E, quem sabe? Talvez sejam eternos.

21.12.12

go away


Desgastas-me. Voltas para mim sem prévio aviso e eu, tola, arco com as consequências da tua vinda. És como um elástico: estico-te para longe, longe, cada vez mais longe, e quando penso que te esqueci és largado e embates em mim com mais força do que eu pensara possível. Desta vez devo ter esticado mais do que o habitual, porque nunca tinha doído tanto, não desde que estou com ele. E não entendo o porquê. Não foi uma foto nem um vídeo, nem uma palavra nem um texto. Simplesmente voltaste, como as andorinhas voltam para a Primavera quando esta regressa, mas tu não vieste na tua altura, e tu não estás cá. És a dor constante e o medo que me sufoca, és lágrimas derramadas no silêncio das noites mais frias de dezembro. Sou iludida pelo coração que me bate no peito, destroçado por ti. Quem te deu o direito de o tomares como um ponto de passagem? Vais e vens, ao sabor do vento: ficas apenas tempo suficiente para me magoar e vais tempo suficiente para um esquecimento ilusório. Deixas só lágrimas salgadas e soluços interrompidos. Já não sei quem és, mas sei quem foste, e sei que te amei como sei que te amo. Sei que não te esqueço como pensei estar a esquecer e que ainda ocupas o meu pensamento. Constantemente. Sem querer. Mas eu tento afastar-te outra vez, até ao dia em que não voltes a mim. Até só me restarem as memórias; de como foste tão meu, de como eu fui só tua.

partiste


És uma lágrima derramada
És tudo e és nada
És a história incabada,
A mentira que não foi contada
Mas ainda vives em mim

E procuro-te
sem te querer encontrar
E navego no mar 
de memórias
com medo de me afogar
E sonho contigo
quando só quero acordar
E amo-te
quando te devia odiar

Tudo o que vem
Vai
E tudo volta
Mas tu não voltaste
E ficaste
nas sombras do nada
Como uma história inacabada
E uma mentira
que nunca foi contada

11.12.12

meu amor


És chá de menta e os croissants folhados recheados de creme com os quais ainda me hei-de deliciar em Paris. És chocolate quente num copo de cartão com corações desenhados e és o calor do meu Inverno. És a lareira, o cobertor e as luvas. Confortas-me como um abraço há muito esperado que parecia não vir e quando não estás deixas um vazio em mim. És os beijos trocados por um casal de apaixonados e o chilrear dos pássaros pela manhã. És as primeiras borboletas da Primavera. És o que eu nunca tive e sempre sonhei ter. És uma caixa de chocolates com recheio de caramelo, és a música que canto e não me sai da cabeça. És os vidros embaciados e uma canção de embalar. És a almofada que abraço, o som que sufoco e o grito. És o grito. Que explode na minha garganta e voa livre no céu frio. És a gargalhada infantil que me provocas. És a doçura do açúcar que trazes nos lábios. És os arrepios que o teu toque me causa. És lágrimas de felicidade e olhares cúmplices. És amor, paixão, carinho, amizade, alegria, felicidade e euforia.
E és o amarelo da flor que sobreviveu ao frio do Outono.

10.12.12

dei-te o melhor de mim


Estou deitada na cama sem poder mexer o corpo que é meu, a minha mente vagueia pelos lugares mais sombrios que tentei enterrar sob areias movediças. As paredes do meu quarto fecham-se sobre mim com palavras pintadas nelas, grandes e pequenas, inconstantes, com tinta preta. Palavras essas que narram uma só história, tu sabes qual, a nossa. A história que levamos mais de dois anos a escrever, tinta da china e pena branca no papel que não sobreviveu às lágrimas derramadas sobre ele. Um momento e tudo regressa, sou envolta em ondas de sentimentos antigos que não me deixaram, não me deixaste. Ainda vives em mim, e preferes deixar-me só na confusão de emoções incompletas, palavras inacabadas, que voltares-me a dirigir a palavra, será mesmo melhor assim? Destroça-me o coração. Como podem duas pessoas amar tanto e tão intensamente, construir muralhas em volta de um sentimento tão grandioso e depois tornarem-se completos estranhos?
Interrogo-me no que farias se passasses por mim na rua. Se os teus olhos voltarem a cruzar os meus, se voltares a sentir o meu aroma, se voltares a vislumbrar a imagem daquela que foi só tua, pele pálida e fria, olhos escuros e lábios secos, o que sentirás? Nada, ou tudo, alguma coisa? Rolar-te-á uma lágrima no rosto ao sentires a perda, ou já perdeste todo e qualquer amor que outrora sentiste por mim? Porque é mais que óbvio que o mesmo não aconteceu comigo.
Não te quero de volta, coração, ou pelo menos tento não te querer. Voltei a amar, mas não te esqueço. Guardo-te em mim como um medalhão banhado a ouro numa caixa em forma de coração.
Porque o primeiro amor nunca se esquece.

1.12.12

eras o meu outono


Eras o calor nas minhas faces nas noites mais quentes, eras o frio nos meus pés nas tardes mais gélidas. Eras o orvalho que escorria nos trevos de quatro folhas, eras o sol refletido nas tábuas saídas e telhas partidas. Eras o cheiro da relva acabada de cortar, eras o sabor dos primeiros flocos de neve. E eras a força da chuva. Eras a graça do sol. E a dança do vento com as folhas amarelas, vermelhas, rosadas e castanhas. Eras uma palete com todas as cores, e eu pintava com os dedos nas paredes brancas do meu coração. Eras amor e eras ódio. Eras a luz e as trevas. Eras fogo e eras gelo, eras tudo e eras nada, o concreto e o abstrato, o impossível. 
Mas eras sempre muito, e nunca foste pouco.
Foste a chuva quente de julho e o sol a espreitar no céu de fevereiro. Foste o chocolate quente nas mãos e o chá gelado nos lábios. Foste o cheiro das primeiras flores de uma nova primavera, foste os ramos despidos a abanar ao vento. Foste acordes e notas da música mais bela, e eu dançava em bicos de pés. E foste a luz pálida da manhã. Foste as estrelas na noite escura. Foste o desejo que não se realizou e a carta que não recebi. E foste a dor. Foste a dor constante e foste lapsos de alegria que pareciam não passar de ilusões. Foste o sim e o não. Foste o talvez. 
Mas foste sempre muito, e nunca serás pouco.

26.11.12

deixa-me

 
Encontro-me mergulhada na exaustão do fim de tarde. A chuva de novembro (sim, como na música) chicoteia as janelas lá fora. Dói-me a cabeça, muito. E tenho algo a fazer. Tenho de desenhar, estudar, tocar. Mas ao invés disso deito-me na cama sem fazer nada, com uma mente vazia, ou quase. Estás lá tu. De novo, como sempre, atormentas-me o pensamento, com que direito? Sim, que direito tens tu de fazer algo como isto, deixares-me mas continuares em mim, tão vivo como dantes, a contorceres-te no meu coração?
O corpo de uma rapariga repousa, imóvel, numa cama branca e rosa. Vejo o corpo; vejo-o através dos seus olhos. As mãos claras, os pés frios, as pernas magras. Vejo-o mas não o sinto, não há sangue a correr-me nas veias, não há calor nem frio. Não o mexo, perdi o controle sobre ele, este corpo que não é meu. Que faço aqui? Tenho medo, estou perdida. Estarei morta? Existo? Serei só uma ilusão aprisionada numa bola de vidro? 
Vejo-te, voltas a mim, com uma nitidez sobrenatural que me magoa o ámago, e esta passa a ser a única dor que sinto. Voltam a mim os teus olhos e sorriso, os beijos ao fim da tarde, filmes no frio da noite e bolachas acabadas de fazer. Voltas a mim e não me deixas viver, não me deixas amar, sinto-me a cair outra vez.
Quero lutar, quero-me de volta, mas não posso. Perdi-me sem ter para onde ir e deixei-me levar pela dor.
E desta vez, ninguém me pode salvar.

21.11.12

segunda carta que te escrevo


Sinto a tua falta quando não estás, quando não te sinto comigo. Quando me abandona aquela sensação calorosa de ter alguém, ou quase, alguém para que sou uma pétala em vez de um espinho como sempre fui tratada. Estás no orvalho frio destas manhãs de Novembro, nos vidros embaciados do autocarro cheio, na almofada em que acordo, nos bocejos e olhos lacrimejantes daqueles a quem o sono ainda não abandonou. Estás comigo, mas não em mim; seguro-te pela mão, ou és tu que me seguras? És meu? É cedo, eu sei; demasiado, demasiado cedo para me entregar, mas porque não? Fazes tudo parecer tão fácil.
Quero ver-te, quero sentir-te comigo outra vez, quero ter-te perto. Quero que me sorrias e quero ouvir as tuas gargalhadas, ter o teu toque mesmo que por poucos segundos, quero assegurar-me que és real, que isto não é apenas um sonho das noites inacabáveis, quero sentir-me como me fazes sentir, quero provar felicidade de novo, o nervosismo que me invade quando caminhas para mim, e sinto-me derreter, a cair, cada vez mais, neste poço sem fundo.
E quando penso que o feitiço me abandonou, ou não passou de ilusão, aproximas-te devagar e apertas-me contra ti, como tanto me vejo imaginar, como tanto me vejo querer, as tuas mãos nas minhas costas e os teus lábios contra a minha pele, não me magoes, temos tempo, vamos tentar?

18.11.12

primeira carta que te escrevo


Tens o poder de fazer as minhas pernas latejar quando o teu olhar encontra o meu. Aqueces-me o coração como chocolate quente num dia de Inverno, e é bom. É confortante, apazigua-me a alma e tranquiliza o pensamento. Os teus braços em meu redor deixam-me estática com emoção, o corpo que quero abraçar, sentir-me protegida outra vez, começar de novo. 
Estás tão perto e eu afasto-me, com medo de me magoar, de te magoar, tu que és tão frágil, não aguentaria ver-te sofrer. Segura-me junto a ti, perto, mais perto, os teus lábios quase nos meus, tua respiração no meu rosto e fiquemos assim, sem mais nada, trocas de olhares e sem pronunciar uma palavra, porque não há nada que os olhos não digam.
Um arrepio invade-me cada centímetro do corpo quando pronuncias o meu nome, e deixo-me derreter nas tuas palavras doces, caramelo e baunilha numa dança improvisada, o teu toque nas minhas mãos e as bochechas coradas, as covinhas amorosas e a barba por fazer, consigo recordar cada uma das tuas feições com nitidez, porque a tua imagem ficou gravada na minha mente desde o primeiro dia em que vi, imagem que deixa saudade quando te vais, imagem que me enfeitiça, porque me escolheste? Tenho medo, é demasiada felicidade, não ma tires, não ma tirem. Deixa-me tê-la, e ter-te também, mas com calma, temos tempo. Vamos caminhando devagar, os dedos entrelaçados ao de leve, uma canção de amor, quero ter calma, cuidado, tento não cair, não aguentaria a queda.
Oh, mas tropecei logo que me sorriste.

1.11.12

adeus


Admite, sentes a minha falta. Estás só, falta-te um pedaço de coração, a peça que antes encaixava em teu corpo na perfeição perdeu-se - sabes onde ela está, mas não a podes apanhar. Sentes frio e ninguém te aquece, o sofá onde passámos tardes sem fim estendidos parece de súbito demasiado largo. Os teus braço encontram-se em volta de uma almofada fria, no lugar onde antes presenciava um corpo. Tens saudades de nós mas não coragem: não tens mais condições de sofrer. Sei disso, sei como te sentes, porque sinto o mesmo. Penso em ti. Acho que, desde aquele dia, nunca deixei de te ter no pensamento. A tua foto, meia torta, um retrato antigo de nós repousa nas paredes da minha mente, e não sai. Ouço a tua voz, sinto o teu cheiro, mas foste-te. Já não voltas, e se voltasses? Aceitar-te-ia de volta? Sim. Numa batida de coração, num piscar de olhos, mas não posso. 
Por isso, não voltes. Deixa-te estar na paz da solidão, vai passar. O tempo tudo arrasta, menos as memórias. Essas ficam, meu anjo, essas não largo, nunca.
Espero que encontres o que procuras.

22.10.12

estou aqui


Amor? Estás aí?
Onde andas, coração? Tenho-te procurado. Levanto pedras enormes, desvio ramos pesados, percorro cada canto da floresta negra que me envolve tentado encontrar-te. Inutilmente. Não estás aqui, partiste: porquê? Porque te foste sem prévio aviso, porque me deixaste aqui, esperando em vão o dia em que me voltarias a tomar nos braços? Não consigo largar os fios de seda que nos unem um ao outro, vermelhos como sangue, escorregando pelos nossos tornozelos. Afastas-te e corro atrás de ti, tentando manter os frágeis laços que nos unem, mas tu não queres; o vazio negro no meu coração afirma estar para ficar. Coração, volta. Une-te a mim, completa-me: creio já não me conhecer, sou uma estranha num corpo odioso, prisioneira de minha própria mente, vítima de promessas quebradas e juras esquecidas. Lembras-te de mim? Recordas-te, como eu, de todos os pormenores da vida que construímos? Sentes a minha falta, sentes algo de todo?
Ficou algum dos pedacinhos de mim, que tão prontamente te dei, na tua memória?
Estou aqui, chamo por ti, mas não me ouves, ou não me queres ouvir. Tapas os ouvidos, com as mãos que em tempos descobriram lugares só teus, num mundo que era eu, e já não sou. Foges de mim, escondes-te, e tenho medo que nunca mais voltes, só quero que voltes. Um novo começo, seja como for, conversas pela noite dentro, abraços apertados, aventuras secretas nos sonhos que partilhamos.
Volta, coração, não posso esperar para sempre.

14.10.12

tell me why


Antes de começares a ler, quero deixar claro que vou despir os meus dedos de qualquer tipo de magia que já possuíram, desprovir este texto de palavras caras e bonitas, como sólidos ovais dotados de cores em tons de pastel, fios de ouro e pedras preciosas, porque este sentimento tão negro não merece ser, de forma alguma, chamado de belo.
Escrevo-te, meu amor, porque não consigo mais suportar a dor no meu peito, que cresce a uma velocidade maior que a da própria luz. A dor da dúvida, aquela que me assombra, o não saber, a incerteza, a falta de conhecimento, chama-lhe o que quiseres. A minha alma vibra ao som de canções entoadas com apenas piano, uma nota atrás da outra, uma sinfonia abismante, sequência de sons que estremecem o chão que piso de forma assustadora, ao ritmo de quem não pode ver. Não te posso ver, meu amor, não te sinto comigo, não te tenho aqui e não sei. Onde, quando, como e porquê, são mil e uma perguntas que entoam na minha cabeça, são as notas do piano, palavras e frases, emoções sem nome nem descrição. Não sei se a distância apagará o teu amor por mim ou intensificará a saudade, não sei porque me falas sem o intuito de acabares a conversa, deixas meias-palavras a pairarem num ar sufocante, não sei porque é que vives tão intensamente em mim se não tens intenção de voltar... Não sei porque te foste, o que fizemos de errado, como acabámos assim? Ou talvez até saiba e não queira encarar os factos, feios como monstros de feições deformadas e horrorizantes, mas alguma vez existiram factos numa paixão tão ardente como a nossa?

11.10.12

1 & ½


Folhas amarrotadas no canto de uma sala escura. Fios líquidos e transparentes pendem do teto, arrastando-se mesmo até ao chão de tábuas quebradas, feitas de madeira frágil, já velha, apodrecida pelo tempo. Os pregos parecem soltar-se mais ainda com a força dos meus pensamentos, turbilhões de ideias, explosões de cores descoloridas, mortas, sem vida. Mas, como se o papel me assustasse, toda a minha sede de criar evapora-se no ar gélido quando tento expor o que o meu coração grita. Espreito só pela janela pequena do cubículo onde me encontro.
Este clima transmite-me uma estranha sensação de tranquilidade, apazigua a minha ânsia, o nervoso descontrolado que se me forma dentro do peito. Talvez seja, de alguma forma, o ruído da chuva que bate violentamente nas pedras sujas e gastas, na terra ressequida, na chapa metalizada de um edifício ali perto. Ou talvez tenha a ver com a luta de forças entre os ramos de árvores de tons acastanhados pelo outono e o vento, forte e frio. Talvez seja a rebelião da natureza que me é comum, contra um mundo que já não a quer, substituiu-a por linhas elétricas e ondas sonoras, como o meu mundo deixou de me querer...
Deixaste, não foi? Então faz algo por mim, peço-te: apaga-me. Queima, com labaredas vermelhas e alaranjadas, as fotos, rasga os desenhos, destrói os presentes e mutila as cartas, acaba com tudo o que tivemos, mil e uma histórias de amor num livro que ficará para sempre inacabado. Apaga-me, mas não me esqueças: guarda a minha imagem no coração que um dia me entregaste, os meus olhos a estreitarem-se, os lábios abertos e as bochechas rosadas, aquele sorriso que tanto amaste rasgado no rosto depois de cada beijo, sorriso prova da felicidade que já senti, que receio não voltar a sentir.
Sabes que dia é hoje?

30.9.12

i miss you (V)


Penso ter finalmente afastado a dor, acredito ter trancado os montros numa caixa do aço mais resistente, ferro forjado com as técnicas dos antigos, à prova de bala, à prova do amor. É, pensei realmente que sim, até acontecer. Até soar em meus ouvidos a música que costumávamos cantar, aquela que me cantavas enquanto eu te esperava no topo das escadas, entravas em minha casa e encostavas-me à parede, a música que tantas vezes ouvi e que me traz sempre gotículas transparentes aos olhos negros. Até, na imensidão de plantas desconhecidas, um aroma me aflorar as narinas, aquele mesmo aroma que enchia o meu corpo de arrepios, o aroma que sentia enquanto o sangue em tuas veias pulsavam por baixo dos meus lábios húmidos, tua carne que eu desejava, pele quente que me enlouquecia de paixão, tu que foste tão meu. Até as gargalhadas de um casal feliz se fazerem ouvir por cima das vozes incógnitas, a felicidade mais pura que provei, contigo, mãos entrelaçadas, e éramos só nós, tão felizes, num mundo tão triste. Lembras-te? Tu que te foste e me levaste contigo, e eu que ainda espero por ti. 
Mas os momentos não voltam e tento sorrir como tanto gostavas, sorrir por tudo o que aconteceu, pelos risos e beijos, a amizade e o amor que partilhámos e não nos abandonou, não me abandonou, ainda vive em mim, acredita. 
Foram meses, foram anos, e parece que foi ontem que senti as faces arder quando os nossos olhares se cruzaram, numa noite quente de agosto.

29.9.12

note

Olá queridos leitores!
Repararam no novo design do blog? O que acham? Acho que mudei muito desde que o criei e, consequentemente, o estilo já não se aplicava tão bem aos meus textos. Achei este muito simples e até elegante, embora não tenha grande jeito para estas coisas, gostei do resultado. Podem também reparar que pus música! A minha seleção é de músicas calmas, as que acho melhor acompanharem o texto.
Deixem opiniões nos comentários, que eu tanto gosto de os ler.
Beijinhos!

27.9.12

"alguém aqui sofre do coração?"


Sim, stôr. Sim, eu, aqui, ondas ruivas apanhadas num elático branco que nem me pertence. Sim, eu, calças justas e pretas. Eu sofro, professor, mas não se vê. Os médicos não percebem, os meus pais não entendem, mas eu sofro. A cada segundo sem ele uma facada de dor dilacera-me os ventrículos, sou sufocada pelo desespero, e sabe o que dói mais, professor? É não saber, ignorar se quiser, quando o voltarei a ter, se voltarei a ter, e esta nova hipótese ainda me deixa mais angustiada, e só lhe quero ligar, só o quero ouvir mais uma vez... Mas não posso, tenho de ser forte, professor, mas sou tão fraca. Banhe-me em ferro, revista-me de mármore, não importa, a fraqueza não se vê mas eu sinto, sinto muito, infelizmente, porque arruina-me, destrói-me, mata-me sem eu morrer... 
Não consigo correr, professor, não me mexo tão-pouco, só se mexe o meu coração, esse de que sofro, espasmos de agonia, a dor angustiante, porque não morre? As pernas fraquejam, ameaçam deixar-me cair e eu? Só o vejo a ele, o meu pedaço de céu, está em todo o lado, doce miragem que não passa disso e desaparece tão depressa quanto  aparece, suspiros de frustração, lágrimas como lâminas a cortarem-me o rosto pálido, como as lâminas que me tiraram, e que me fazem falta, fazem-me tanta falta, mas é segredo, professor, não conte a ninguém, está bem?

26.9.12

broken


Dói mais do que alguma vez julguei ser possível, contorço-me com a agonia e tento não esticar a mão para o telemóvel, para o telefone, tento não te chamar, meu amor... Receio perder os pedacinhos do meu coração despedaçado, sangrento orgão maltratado, que to confiei ingenuamente, não vês que me destróis? Tento entender-te mas a minha compreensão não alcança a tua mente, tão longe, e estou tão cansada de lutar pelos dois, meu anjo, estou tão cansada de amar mais, estou cansada de tudo em que me tornei, de tudo em que nos tornámos. Eu tento, embora penses o contrário, tento e torno a tentar, caio e levanto-me, mas por mais que tente não consigo manter-me afastada, corro para ti, prendes-me a ti, e as lágrimas não param, fá-las parar...
Tua imagem no ecrã do computador faz-me levar as mãos aos olhos tentando impedir a chuva de desespero cair, inutilmente, claro está. Meus doces olhos, minha doce pele, meus doces lábios, tudo em ti é do mais doce que já provei, aroma banhado de mel e açucares exóticos, aroma que foi meu e aroma que não sei quando voltarei a provar, e logo agora que já me viciei nele... Endoideço de ciúme se imagino a possibilidade de outra te ter, vultos avistados de longe, beijos que foram meus, não, promete-me que não te entregarás a outra pessoa, porque eu já não consigo adormecer com o medo constante a puxar-me os cabelos, a arranhar-me a pele... E estás tão longe, e não te posso chamar, "mantém-te forte, não dês o braço a torcer", sim, falar é tão fácil, é fácil falar quando não se sente, é fácil quando não se ama, mas e eu? E eu, que amo tanto? 
Eu todos os dias morro um pouco por dentro.

24.9.12

how could this happen to me?


Dou pela minha mente a vaguear para aquilo sobre o que não queria escrever, o coração a apertar-se-me no peito, um burburinho nervoso a formar-se no meu âmago, os dedos que precisam de exercício, os sentimentos que precisam de ser libertados. Tenho de fazê-lo, perdoa-me, tenho de abrir as portas da gaiola que o meu coração passou a ser, tenho de deixar os sentimentos voarem sem destino... Tem de ser, meu amor, preciso disto, de um pouco de liberdade na minha vida tão controlada.
A dor é constante e não vai embora, por vezes distrai-se mas logo volta e não sei como a manter afastada. Procuro conseguir responder às perguntas, "o que se passa?" mas como posso, se nada parece certo? Tudo na minha vida parece estar mal e eu não tenho forças para fazer com que fique bem, os monstros não deixam... Os monstros que vivem em mim e ao meu redor, esses monstros que se chamam de gente, vis criaturas.
E tu que não me salvas como dantes, deixaste-me ao abandono e nunca me senti tão sozinha. Alguma vez sairei disto? Pensei estar a melhorar, pensei que a ordem finalmente se erguia como uma muralha em minha volta, mas como me pude enganar de tal forma? A verdade é que estou mais só do que nunca, perdida na imensidão do nada, mas não consigo livrar-me desta dor que me consome como um fogo avassalador, chamas azuis na falta de cor, na falta de qualquer coisa além da mágoa, e perco-me nestas palavras sem sentido, não encontro o que dizer, se calhar é melhor parar, de qualquer forma ninguém vai ler... Ou vai? Se estás aí, ajuda-me, toma-me em teus braços e leva-me daqui, faz-me princesa de teu coração outra vez, prometo que não te torno a magoar, peço-te, imploro-te na mais pura forma de desespero, por favor, não me deixes de novo...

17.9.12

nostalgia de teus beijos


Nunca os rastos vincados no meu rosto pelas lágrimas transparente percorrerão metade do caminho que vejo no caramelo de teus olhos. Encontro-me à janela sem saber o que vejo, sombras indistintas cruzam-se-me nos olhos sem que eu dê por isso, porque tudo o que vejo é o meu pedaço de céu, o anjo que não está. Onde te escondeste? Levas uma parte de mim contigo sempre que vais, e voltas sempre, ou, quando não voltas, eu encontro-te. Procuro-te sem fim, meu apaixonado, procuro-te até o sol deixar de brilhar, até o oceano secar e o universo não mais se expandir. Procuro o meu sonho, aquele que cada vez está mais longe, e eu não lhe chego... E quando o apanho? Escorre-me por entre os dedos, como a areia da praia onde me pegaste ao colo, onde escrevemos palavras na areia, palavras doces como compota de morango e chocolates suíssos, onde me fizeste voar e rir, chorar de felicidade por te ter tão perto. Quando te voltarei a ter? Não percebes, tu não vês? Só estou bem quando estou contigo. Quando o mundo perde a cor e pinceladas nos cobrem de felicidade, a mais pura alegria, o sentimento mais belo e escasso que já senti percorrer-me as veias, as veias salientes dos pulsos já sem marcas... 
Tu, que me salvaste mas não ficaste. Eu, que morro de saudades tuas a cada pulsar do coração. Tu, que te foste sem data de regresso. Eu, que espero que o destino me leve de volta a teus braços. Tu, que não estás, tu que sempre lá estiveste e te foste como as folhas de outono limpas pelo vento do norte.
Volta.

26.8.12

i miss you (IV)


Onde andas? Vagueias como eu, cabisbaixo, no vazio da ausência, na escuridão da espera? Pensas em mim? Os teus pensamentos foram desorganizados por uma onda violenta, como as que embatiam furiosas, aquelas que observamos entre beijos, sentados, abraçados, nas rochas de Vila do Conde? Sim, naquele dia, lembras-te? Guarda-lo na memória como eu? A dureza das rochas contra a suavidade do teu abraço, a força das ondas contra a doçura dos teus lábios a dançarem com os meus. Guardo as fotos desse dia, que te pedi incansavelmente, tu que nunca gostaste de fotos, eu que sempre as adorei. Preferes o momento, sempre mo disseste, então e agora? O que fazes agora, o que sentes, nesta vida cheia de nada? Estou incompleta sem ti, o meu ser não se conforma com a falta do teu amor, aquele que me preenchia de felicidade enquanto sentia o teu corpo quente contra o meu, na revolta de lençóis. Aquecias-me num dia frio de Inverno, o leite frio na mesa de cabeceira e as migalhas no nosso colo, olhares trocados com doçura, risos que nos faziam engasgar no lanche. Pepitas que saltavam, pingas que voavam, os sorrisos a tornarem-se em gargalhadas, e nós nem sabíamos de que estávamos a rir. Ríamos do mundo, do mundo lá fora, atrás da persiana fechada, a tapar a luz incómoda. Ríamos do mundo que desconhecia o amor de verdade, aquele que vivíamos no momento, que palpitava nos nossos corações.
Onde andas?

24.8.12

volta para mim


Deixa-me apagar o gelado dos meus pés no calor de tuas pernas. 
Partilha um lençol comigo e junta a tua almofada à minha, protege-me nesse abraço tão teu e não me largues mais. Não me deixes mais, meu amor, fica comigo assim, sempre. Deixa-me ser tua como quero que sejas meu. Permite-me provar do mais doce aroma, fruto dos frutos, qual ambrósia, criado pelos deuses mais perfecionistas que habitam Olimpo. Afrodite, que te encantou com as mais amorosas palavras, os mais dóceis gestos e as mais queridas carícias. Ártemis, que te encheu a alma de coragem e garra. Atena, que te ensinou os maiores cultos aos quais só os grandes sábios têm acesso. Hefesto, que te moldou os dedos tão dotados de talentos, que te fez passar o lápis sobre papel, criar magia. Ares, que te construíu o corpo, as formas, a força que te passa nas veias bombeada do coração. Dionísio, que te regou com o sorriso que brilha mais do que todas as estrelas no céu de dezembro. E Zeus, o mestre, o deus dos deuses, o santo dos santos, que te deu a vida, a vida que em toda a ti habita, que se mostra em todos os gestos, que o teu olhar me lança, a vida da qual tenho sede, a vida que em tempos fora minha.
Deixa-me beijar teus tenros lábios e voltar a ter-te para mim, só para mim. Volta a fazer-me tua, como tu és meu, como sempre foste meu, volta a amar-me, como sempre me amaste, como sempre te amei. Volta para aquela que espera por ti, aquela que sempre te quis.
Volta para mim, porque eu preciso de ti.

23.8.12

i miss you (III)


Sozinha e com frio, espero a mesa da cozinha fazer-se vibrar com a mensagem que tanto anseio receber. Sim, sabes qual. A mensagem que prometeste mandar-me, a mensagem que mudaria tudo neste momento, a mensagem que não chega, assim como tu não chegas, assim como o momento em que estarei de novo nos teus braços não chega. E uma saudade avassaladora apodera-se do meu coração como um veneno conhecido: escorre pelas suas paredes, revolve-se no seu interior. Cada batimento empurra o sangue envenenado pelas minhas veias e artérias, fá-lo percorrer todo o meu corpo, chegar ao cérebro, chegar-me à mente. Queima-me as células, corrói-me o ser, arde como um fogo que não se pode ver. A minha cabeça entoa músicas antigas, de quanto te tinha, poesias criadas tendo-te apenas como inspiração.
Não retraio em mim esta saudade de um dia e poucas horas sem ti, mas sinto a saudade dos dias que virão sem poder provar os teus doces lábios, sentir o teu modesto aroma, ouvir a tua apaguizante voz e olhar os teus profundos olhos. Desconheço o tempo que me resta sem ti, o tempo que terei de suportar até voltar a sentir os teus dedos brincalhões na minha cintura, fazendo-me soltar gargalhadas fortes e cheias. Desconheço quanto tempo terei de viver assim, mas viverei todo esse tempo com uma esperança na garganta seca: todos os dias estou mais longe da última vez que te tive, mas mais perto da próxima vez que te terei.

19.8.12

o eternamente não foi tão eterno assim


 Acordo todas as manhãs com a face áspera das lágrimas que nela secaram. 
Depois de uma hora a debater-me contra outras que ameaçam cair, na minha cama de casal demasiado fria e sozinha, atiro os cobertores para longe e olho pela janela.
O mundo gira, lá fora. A vida continua. As nuvens dissipam-se, as estações passam. As luas mudam.
Todos os dias vida é criada e tirada. Todos os dias nasce e morre amor no coração de um ser solitário qualquer. Todos os dias eu morro mais um pouco por dentro.
No céu matinal vestido de puro azul, o sol resplandecente parece gritar contra o vento, chamar por aquela que foi sua, berrar em silêncio.
O ponteiro dos segundos leva horas a mover-se. Os números no relógio parecem diminuir o tamanho e afastar-se, testando-me, perguntando-me quanto tempo aguentarei esta farsa.
Nas ondas alaranjadas e rosadas do céu de fim de tarde, a lua ergue-se só, esperando as estrelas que mais abaixo a seguram, quando avista ao longe aquele que foi seu desaparecendo no horizonte. E lágrimas angustiadas percorrem as suas crateras quando a escuridão toma conta do céu.
Todas as noites, a mesma pergunta. As vozes graves a interromperem-se com nada mais que a mesma acusação, inquirindo-me ameaçadoras com uma só questão: Será que fiz bem?
Não como. Passo noites em branco, recordando momentos, palavras, juras e promessas, beijos adoçados com mel e polvilhados de açucar.
Uma réstia de brilho surge nos meus olhos, ensombrados por uma névoa de desilusão e mágoa, quando o telemóvel se acende e me deixa ver os nossos rostos felizes na foto que não tive coragem de apagar. Sinto uma esperança tola de que o teu nome surgirá debaixo do vidro... Mas as lágrimas, que há tanto tempo conseguia domar, soltam-se ferozmente com um gemido choroso, finalmente livres de me encharcar a pele. A intensidade do choro implacável aumenta quando a fotografia emoldurada de prateado na minha mesa de cabeceira se ilumina... e tudo volta. Ali, no escuro da noite, sou levada a afogar-me em memórias de dois anos passados ao lado daquele que foi meu.

18.8.12

- estou?

 
- 'Tou.
- Como estás?
- Ocupado.
- Não me tens respondido aos telefonemas...
- ...
- Amor?
- Tenho de ir.
- Está bem. Am-
Tu, tu, tu...

O som da tua voz deixou de flutuar com o vento até aos meus ouvidos. Mais doce que maçãs caramelizadas ou chá de limão com mel. A doçura entorpecia-me a garganta e revolvia-se em meu estômago, mas onde foi? Voou para longe, nas asas de uma ave qualquer, uma ave livre como eu não posso ser. Correntes frias apertam-me os tornozelos e prendem-me a circulação, ligam-me a a ti, prendem-me a ti. O amor com que antes me preenchias, o amor que me deixavas correr nas veias e artérias, o amor que afogava os meus orgãos e queimava os ossos. A paixão ardente, fogosa, com que me tomavas em teus braços e com que saboreavas os meus lábios, que eram, que são, teus, com que percorrias o corpo que tanto desejavas. 
Divago. Como nas outras vezes que deixei a caneta guiar-me na transmissão de emoções para o papel frio, encontro-me a divagar num navio perdido, ondulando com as ondas da memória e procurando um rasto de pólvora que me permita acendê-las de novo. A chama que esmoreceu, o amor que dizias que aumentaria sempre, momento após momento, e que quase já não ves. Derreteu como um rebuçado de menta na língua de uma criança que o quer fazer durar o máximo possível. Como essa criança, agora rebolo o pequeno doce, manipulo-o. Tento desesperadamente fazê-lo durar, tento desesperadamente mantê-lo intacto como antes, tento, tento, tento...
Volta a refrescar o meu corpo com o doce sabor de menta e aquece o meu coração com o fogo que nele ateaste há dois anos atrás, e que continua a arder, mais forte, mais intenso.

31.7.12

alegria de nascer do sol


Acaricio-te levemente os cabelos selvagens e compridos, que nunca param onde deviam, e beijo-te a pele quente das costas.
Sou invadida por uma onda de calor e um sorriso desenha-se-me no rosto. Sim, desenha-se-me, porque não existe maior beldade neste mundo que não a arte para descrever o que senti naquele momento. Aquele momento em que teu corpo, reunião dos maiores talentos dos deuses que te construíram com tanta graça e perfecionismo, roda sobre si para os teus olhos ainda ensonados se encontrarem com os meus. E também os teus dentes, brancos como a luz do dia, perfeitamente alinhados, me saudaram alegremente.
Sinto os teus lábios suaves de encontro aos meus, aquela troca de sentimentos, mais do que de fluxos, aquilo que palavras não podem dizer, aquela imensidão de paz e calma que alimenta a árvore que cresce no coração dos apaixonados. Aquela árvore rara da qual só tu guardas as sementes: aquela árvore à qual gosto de chamar felicidade. E colhemos os frutos dessa árvore entre gestos e carícias, entre balbucios e suspiros. Entre toques inundados de carinho e apertos repletos de desejo, deixamos a pele de cobra, que todo o mundo vê, no chão frio de mármore, e partimos à descoberta um do outro, de novo, como um só ser. 
O teu braço forte pousa-se no meu corpo, de súbito tão miúdo, e chego-me mais a ti. Provo o teu calor e sinto o teu aroma, ou será o contrário? Que importa. Nada importa, não contigo, não assim, não agora. 
Oh, como seria maravilhoso que todas as manhãs começassem assim.

22.7.12

começa por a


Quando o vazio da tua ausência enche o ar, este torna-se pesado e sufocante.
As minhas mãos tremem na testa latejante, esta fervendo como um incêndio que devasta todas as formas de vida no seu caminho. 
Arrasto-me para as formas brancas redondas que me prometem a paz de espírito, mas de que servem materiais e fórmulas contra a força dos elementos, o verdadeiro motivo de existirem, o mestre que os controla, aquele que tantos dizem sentir. É, muitos o dizem, mas quantos foram os que realmente sentiram uma mão de garras afiadas penetrar-lhes o peito e torcer-lhes o orgão que bombeia o plasma e os leucócitos, as hemácias e as plaquetas, os que sentiram duas correntes de aço entrelaçarem-se em redor do pescoço, os espasmos de dor e prazer a debaterem-se dentro do estômago? Sentimento demasiado avassalador para um corpo humano, demasiado grande, demasiado forte. Sentimento criado pelas próprias deusas, Afrodite e Vénus, essas tão maravilhosas ninfas que na verdade são só uma, essas que anseiam ser o que criaram e sentir o que não podem. E por isso manifestam todos os desejos do ar que não podem respirar soprando-o até um amaldiçoado, um inocente que será submetido a uma toda vida em torno de uma toda pessoa. 
Divago, divago, digo tanto sem dizer nada, mas não é assim mesmo? É, é assim que sempre foi, é assim que acontece quando um ser tão pequeno e fraco tenta descrever uma palavra que nem tem coragem de pronunciar.

21.7.12

blue sky


Os meus olhos perdem-se na imensidão azul e deixo os pensamentos depressivos lá se afogarem.
Como é lindo. Índigo, celeste, turquesa. Tonalidades que se fundem com umas manchas de um branco quase transparente, dispondo-se em camadas, dançando à melodia do silêncio. 
Lá em cima, uma gaivota deixa-se também embalar descontraidamente por aquele vazio, tão cheio.
Calma. Paz. Sim, a qualquer pessoa o azul do céu transmitiria estas sensações, tão serenas, mas a mim transmite-me uma que supera todas as outras: amor.
Sim, o céu lembra-me de ti. Tudo me lembra de ti, está certo, e algo tão belo não poderia ser exceção. 
Ali, com a brisa suave a acariciar-me os poros e o sol brilhante a queimar-me a pele, revivo aqueles momentos passados contigo, a olhar o céu. De olhos semicerrados, mãos dadas, a partilhar um calor que não era inferior ao clima típico de verão, deitados na relva verde e fresca, ainda por cortar. Formas de nuvens se formavam em frente de nossos olhos, acima das nossas cabeças. Eu falava, tu escutavas, que combinação tão estranhamente perfeita. O som da minha voz oscilava com entusiasmo enquanto apontava as formas claras no céu e tu sorrias e fechavas os olhos. Ali sentíamos a felicidade, mais do que o ar que respirávamos, mais do que o sangue que nos circulava nas veias, conseguíamos sentir a felicidade palpável que explodia em nosos corações, a pureza do primeiro amor. E puxava-te para mim, buscando o conforto que sempre encontrei em teus lábios.
Ah, como é lindo, o azul do céu.

20.7.12

something or nothing at all


Tento parar a hemorragia transparente que me escorre pela face, com origem nos olhos, quais cataratas, com um ou dois lenços amassados, cor de nada.
As árvores lá fora bailam com o sopro desse tal de Deus. As aves, todas diferentes, deixam-se ser embaladas, voam para longe, como eu tanto gostava de fazer. Então por que não o faço? Talvez porque a minha vida está dominada por pedaços de papel, assim como a de todos os seres deste mundo, talvez até de outros, quem sabe?
É uma questão de hierarquia, de poder, de força. É uma questão de honra, ou pelo menos é isso em que nos querem fazer crer. Controlar-nos, manipular-nos. Porque é isso que esse papel nos faz: controla-nos. O que somos, o que merecemos, o que fazemos, o que podemos. O passado, o futuro e o presente como o conhecemos. 
Suspiro. É demasiado. Demasiada hipocrisia, demasiada incoerência. Sim, incoerência, porque o mundo contraria-se a si próprio. Factos, factos, factos, e na verdade, nenhum facto é um facto, porque há sempre que o contrarie, há sempre quem proponha uma alternativa a essa verdade. Abutres com fome de mentiras, sanguessugas com sede de morte.
Porquê? É a pergunta que se repete incansáveis vezes num remoinho dentro da minha cabeça. Oh, "porquê". Que pergunta tão covarde, tão medrosa, tão impotente e furiosa. Pergunta sem resposta e que se alimenta do silêncio. Oh, quem nunca fez essa pergunta? Quem nunca enrugou a testa esperando uma resposta que preenchesse todo aquele vazio? E, no final, nunca era obtida. 
E isto porquê?

19.7.12

viste-me?


Quando os meus olhos se pousaram em ti e os meus lábios se afastaram em espanto, quando as minhas pernas ameaçaram deixar de suportar o meu corpo e este ficou sólido como mármore?
Viste o rosto ao qual juraste eterna amizade, o rosto que prometeste nunca abandonar? Voltaste a sentir o meu peso nos teus ombros, as gargalhadas fortes e cheias que lançávamos contra o vento, as lágrimas choradas e abraços sentidos? 
Os gestos de amor, poucos foram. Um ou outro "adoro-te" de vez em quando, mas não precisámos de mais. Porque num olhar trocávamos todo o carinho que nutríamos, e assim ficávamos. Entre brincadeiras debaixo do sol intenso de verão e conversas intermináveis na pedra fria do chão. Assim vivemos como irmãos, sangue do mesmo sangue, carne da mesma carne. Eras o ré da minha pauta, eras a pétala da minha flor, eras a palavra do meu livro.
Eras, não. Foste. Porque rasgaste as fotos que nunca tirámos juntos, apagaste as memórias com uma borracha negra de desprezo e deixaste-me, a perguntar-me o que tinha acontecido. Porque te foste embora? Acreditei que ficarias. Acreditei nas tuas promessas sem som e juras em silêncio. 
Nunca te perdoei deixares-me assim, tão só, tão sem ti. A tentar inutilmente fingir que não sinto a tua falta, a tentar esconder o tanto que foste para mim.
Viste-me?

13.7.12

as palavras - composição do exame


Palavras, doces como o mel, duras como espadas. Palavras graciosas como aviões de papel que têm o coração como destino. Palavras, meras palavras? Não, nada disso. O poder das palavras é inabalável, grotesco, chega até a ser perigoso. As palavras fazem a guerra, as palavras fazem a paz, mas, no entanto, não passam disso, palavras! Conjuntos de letras aglomeradas, organizadas por alguém que não podia ver, ou que via bem demais...
Seria impossível um ser carregado de tamanha covardia como os humanos, sim, esses que se acham donos do céu e da terra, pudesse acarretar em si um valor tão dolorosamente belo como o das palavras!
Por isso fecharam-nas. Numa gaveta apertada fecharam as grandes obras e os pequenos sonetos, rasgaram as veias da poesia e arrancaram as raízes da prosa. Quais livros? Qual escrita?! Largámos o maior tesouro que nos foi cedido e para quê?! Para não estarmos mais de dez segundos a cruzar polegares num bloco eletrónico frio e sem vida?! Onde foi a paixão?! Em que mar a afogámos e lá deixámos? Em que gaveta trancámos a maior das belezas, em que baloiço molhado de chuva abandonámos o livro?! Sim, o livro, sabem do que falo. O livro que acendeu mil e dois sorrisos no rosto de quem deixou cair mil e três lágrimas. O livro que não nos permite saltar páginas mas nos deixa reler o que ficou para trás, o livro que arde no peito e gela as veias, um livro sem capítulos nem páginas contadas!
Seremos nós guerreiros fortes o suficiente para trazer de volta as palavras?

10.7.12

recado na porta do frigorífico

 
Olá almas vagueantes, como estão?
Roubar-vos-ei pouco do vosso tempo mas há algo que me esqueci de publicar aqui - desculpem! - e acho que devo.
Se são leitores assíduos do meu blog - como se tal coisa existisse - sabem que parei de postar a minha história scars... Não, não foi por preguiça ou desistência da minha parte, foi exatamente o contrário: ambição. Sim, levei a minha história para outra plataforma para desenvolver os capítulos - de cinco palavras fiz trezentas, que tal? - e talvez, mais tarde, a lançar realmente em papel e tinta, num livro. É não só um sonho, tornou-se um objetivo.
Espero que me compreendam e apoiem, meus doces.
Inês

6.7.12

if i killed myself tonight

 If I killed myself tonight
Would you think it's all your fault?
Would you hold my dead body,
And apologize to my dead soul?

If my breath died in my throat,
If my brain finally collapsed
Would you lay down by my side,
Would you forget about the past?

Make my wishes be ignored:
If my cold body was buried
Would you put flowers on my grave,
One for every year I lived?

And make my wishes be attended:
If my ashes flew away,
Would you run after the wind,
Would you try to hold me back?

What if my ashes kept on flying
And ended drowning in the sea?
Would you follow them, still,
Would you risk your life for me?

If I kill myself tonight,
And do not be but sincere,
Will you say you love me back,
Or will you only shed a tear? 


3.7.12

i miss you (II)


Lembras-te de como as poucas estrelas que salpicavam o céu deixavam um brilho nos meus olhos escuros?
Eu ainda me lembro do sabor da brisa noturna de setembro. Puxavas-me mais para ti naqueles sofás brancos e podia sentir a tua essência quando o fazias. Uma essência que me fazia sentir na barriga mais do que borboletas e uma onda de mil e um volts percorria todo o meu corpo. Quando me beijavas esta sensação repetia-se, e outra vez, e outra. Os meus lábios anciavam os teus como se fossem água e eu morresse à sede; e nenhuma sensação conseguia superar saber que os tinha.
Naquele momento, naquela noite, um pensamento atravessou-me a mente, pensamento esse que há muito anda perdido: eu era feliz. Ali, envolvida pelos teus braços, perdida nos teus lábios, o que eu sentia era a mais pura felicidade. Eu e tu, nós, nada mais existia, e era assim que eu queria que fosse sempre. Oh, pode ser assim para sempre?
Uma melodia quebrou o silêncio da noite. Da tua boca emanavam os mais belos sons e cantavas baixinho, como quem conta um segredo. Quando te esquecias da letra eu lembrava-ta e acabámos a cantar juntos o refrão, de mãos dadas, perdidos no momento:
"If I could, then I would
I'll go wherever you will go
Way up high or down low,
I'll go wherever you will go"
Jurei a mim própria nunca esquecer as palavras por ti pronunciadas naquela mesma noite. Guardá-las-ei no coração com as memórias que me restam de ti, meu tesouro.


2.7.12

i miss you


Tenho saudades do aroma com origem no forno que percorria toda a minha cozinha. Aquele aroma doce que fazia crescer água na boca e faria qualquer pessoa desligar o forno antes do tempo. Porém, não o fazíamos, pois o tempo passava num piscar de olhos enquanto me encostavas a um armário, seguravas a minha cara com ambas as mãos e me beijavas apaixonadamente. Sempre adorei todo aquele processo de fazer bolachas contigo. Lembras-te? Lembras-te da maneira como eu me aproximava sorrateiramente por trás de ti e pintava o teu nariz com a mesma massa que tu levavas à boca quando eu não estava a ver, porque sabes o quanto odeio que o faças. Lembras-te de como tentavas lambê-lo e depois me perseguias até me deixares dez vezes pior do que estavas? E de como eu me fingia amuada a um canto até não aguentar mais e correr em busca dos teus lábios?
Sim, eu lembro-me. Também me lembro de afogar aquelas bolachas salpicadas de pepitas de chocolate ou pintarolas coloridas no leite frio e de como tu costumavas fazer uma careta quando vias a minha chávena cheia de migalhas minúsculas. Lembro-me do calor que nos envolvia enquanto assistíamos a um filme de desenhos animados agarradinhos... Lembro-te de ver, pelo canto do olho, um sorriso pateta no teu rosto enquanto me observavas. Lembro-me de como costumávamos passar mais tempo a trocar carinhos do que a realmente ver o filme e de como isso não importava, porque a pureza do nosso amor fazia qualquer outra coisa parecer dispensável, fútil, vazia. Nada tinha qualquer tipo de importância quando me encontrava perdida nos teus braços, e não nas trevas, em que agora me encontro.
Tenho saudades da tua presença.

1.7.12

alone in the night


Comecei a escrever e apaguei as palavras como se as tentasse afastar. E de novo o fiz, e novamente. 
Perdi a conta às lágrimas que deixaram um rasto ardente na minha face pálida e não sei descrever a cor exata das meias luas debaixo dos meus olhos. Nos meus lábios são abertas fendas como em mármore antiga. As minhas pestanas encharcadas pressionam a minha pele com força tentando parar as cascatas que brotam dos meus olhos, nos quais reina a escuridão.
Quando a tua presença não se manifesta o meu corpo parece reduzir o seu tamanho, mas não o suficiente para poder esconder-me num cantinho qualquer. Desta dor, desta mágoa, da mão gigante que me espreme o coração, que o esmaga, que o rasga até ficar sem sangue. Então por que razão não morro? Que propósito pode ter a minha vida insignificante para não me deixarem encontrar a paz?
Os meus demónios interiores ganham forma e força e, desta vez, não estás aqui para os combater. Uma espada flamejante não pende nas tuas costas nem uma lança mortal reside nas tuas mãos. Não estás aqui, não queres estar aqui. Vagueias sem mim nesse teu mundo à parte ao qual um dia pertenci... No qual um dia me quiseste.
Quando fecho suavemente os olhos, no silêncio da noite, consigo voltar a sentir os teus beijos apaixonados. Consigo sentir de novo a força com que a tua boca saboreou a minha e o meu corpo foi esmagado contra o teu, consigo reviver todas as emoções que me fizeste sentir...
Mas sempre que voltar a abrir os olhos, nada se fará sentir que não a tua ausência. Então porque não fechá-los para sempre?

27.6.12

rimas quebradas

Sinto o frio no pulso.
Tenho a morte na mão.
Sou rainha do gelo,
Quente como o verão
Desisti de tentar,
Do sonho de viver.
Deixei de orar
Quando vim a perder
O meu céu e o meu ar.

Sinto a chama no peito.
Tenho o gelo no olhar.
Sou doce como as nuvens,
Salgada como o mar.
Jurei a eternidade
A quem não me deu se não fins.
Amei intensamente,
Perdoei cegamente,
E em teus braços me perdi.

Sinto a melodia nos membros.
Tenho a música na alma.
Sou harmoniosa pianista,
Dispensável artista.
Cantei ao som da vida
Até a voz me morrer.
Toquei incansavelmente
Para, no princípio do fim,
Me cortarem as cordas e o som.

Sinto a tortura agonizante.
Tenho a caneta entre os dedos.
Sou, fui ou já fora
Poeta, atriz e escritora,
Dona de uma alma quebrada.
Mil rios de sangue chorei,
Os céus e a terra amaldiçoei.
A voz faltou-me, mas gritei,
Até que caí, exausta e vazia.

18.6.12

lock our love


A chama arde de forma tão ligeira que mal notamos a presença da luz que rasga o ar.
Parece ter medo de se acender de novo, de alguém notar a sua presença. Parece sentir um medo incontrolável de que alguém sopre o seu fogo e o apague, por isso arde com receio. Arde baixa e fraca, como uma criança que canta para afugentar os seus medos mais terríveis, mesmo sem deixar de lado a hipótese de ser por eles aprisionada.
Aquela flor seca, cujas pétalas dançam, pendentes, ao sabor do perigo, fecha-a. Aquele cristal quebrado que transforma um raio de luz em mil e um de cores brilhantes e vivas, tranca-o. Aquele caderno cujas folhas foram rasgadas, arrancadas pela fúria e deixadas ao abandono, guarda-o.
Prende o que nos resta numa caixa pequena e guarda-a dentro de uma maior. Não são necessárias esmeraldas a enfeitar o topo ou bordas de ouro e prata entrelaçados: só preciso de segurança, de um aloquete forte de ferro, forjado de forma a proteger-nos contra o frio, a chuva, o gelo e os relâmpagos.  
Preciso de sentir, no teu peito quente e forte, o bater apressado e, ao mesmo tempo, tranquilizante de um coração demasiado magoado para amar com a mesma intensidade que um dia amou.
Beija-me os olhos, escuros como as trevas, que um dia brilharam por um vislumbre dos teus.
Beija o corpo que um dia deste graças por te pertencer e tranca o nosso amor numa caixa escondida em forma de coração.


10.6.12

"eu não te amo"


Com o coração inundado de medo, perscrutei o edifício que em tempos me fora estranhamente familiar. Um ambiente estranho dava ao ar uma áspera sensação de tristeza, de vazio. Toda eu era calafrios e tentei recompor-me em duas ou três milésimas de segundo. Fui, claramente, insucedida.
Baixei-me para recolher nos meus braços uma bola de pelo cheia de vida. Um sorriso aflorou-me nos lábios secos, fazendo-os rasgarem-se violentamente e chorarem sangue sem que eu desse por isso, e encostei o meu nariz ao da pequena criatura que tantas memórias me trazia. 
Um ruído despertou-me desta aura de magia e deixei o gatinho guiar-me na busca pela sua causa.
Foi aqui que te vi.
O teu cabelo rebelde tinha-se tornado mais escuro e a tua pele mais fraca. Admirei o teu corpo numa t-shirt clara e as calças escuras que sempre te cobriam as pernas. Admirei os teus ombros largos, braços fortes e mãos... Oh, o que sentira nas vezes em que me entregara àquelas mãos. 
Quando o teu corpo girou na minha direção, a intensidade do teu olhar fez o meu coração descer ao estômago e a minha traqueia dar um nó em si própria. Imediatamente depois desci a teus lábios e mais não vi: por muito que me tivesse tentado convencer a controlar este desejo insaciável, lancei o peso do meu corpo sobre o teu e esmaguei os teus lábios com os meus. Ansiava pela tua essência, queria provar-te de novo, queria que voltasses a ser meu.
Não me mostrei surpreendida quando a tua força abismal me empurrou contra uma parede do outro lado da casa, nem quando o teu olhar duro me gelou as veias, mas consegui ouvir, sentir, ver, cada pedacinho do meu coração a saltar quando disseste aquelas quatro pequenas palavras, que ambos sabíamos serem bem mais do que simples palavras.

Insecáveis eram as lágrimas que me escorriam pela face quando acordei deste pesadelo, tão real.

5.6.12

não me deixes cair


 Não me lembro da última vez que o vento me roçara na face desta forma. Os meus cabelos despenteados mostravam uma coisa, mas as minhas células traíam-me, e sabia que nada sentira. Não sentira o frio da brisa, talvez porque não havia contraste possível: eu própria era frio, toda eu, agora. Frio e nada mais, gelo, morte. Talvez por isso não me custasse tanto.
Sorri. Não de felicidade nem nada que se assemelhasse a esse sentimento, que há tanto tempo não me visitava, mas sim de calma, de tranquilidade, de conformismo, se quisermos entrar nesses termos.
Farta de estar imersa nestes pensamentos, olhei uma última vez para o céu salpicado de estrelas e, de olhos fechados, mergulhei na escuridão de emoções, os dois pés ao mesmo tempo, não me dando hipótese de quaisquer arrependimentos, e sinto-me a furar o nada, a chegar ao fim, a cair, a cair...

Páro. 
Calma, suavidade, paz. Estou morta? Acabou? Não, não pode, foi demasiado rápido, demasiado fácil.
Meus pés não tocam o chão mas sim baloiçam ao sabor da brisa e com um vislumbre posso deparar-me com uma força a manter o meu corpo suspenso no vazio pela minha mão esquerda. E os meus olhos, desprovidos de qualquer tipo de brilho, não tardam a encontrar a figura que ali me mantém, presa por um braço pincelado de cicatrizes. E a minha alma perdida não tarda a encontrar a tua voz, tão doce e tranquilizante. Não tardo a perceber que me tens mantido presa a este mundo por uma eternidade que passou como um meteorito minúsculo no meio do universo, a meus olhos. Não tardo a perceber que és a única forma de vida que me mantém aqui, mesmo quebrada, vazia, incompleta, mas com uma réstia de oxigénio que não me deixa partir, fugir, desaparecer, como tanto quero e não tento esconder.
A única questão a ser colocada encontra-se no tempo em que serás capaz de suportar o peso do meu coração, negro e despedaçado.