31.7.12

alegria de nascer do sol


Acaricio-te levemente os cabelos selvagens e compridos, que nunca param onde deviam, e beijo-te a pele quente das costas.
Sou invadida por uma onda de calor e um sorriso desenha-se-me no rosto. Sim, desenha-se-me, porque não existe maior beldade neste mundo que não a arte para descrever o que senti naquele momento. Aquele momento em que teu corpo, reunião dos maiores talentos dos deuses que te construíram com tanta graça e perfecionismo, roda sobre si para os teus olhos ainda ensonados se encontrarem com os meus. E também os teus dentes, brancos como a luz do dia, perfeitamente alinhados, me saudaram alegremente.
Sinto os teus lábios suaves de encontro aos meus, aquela troca de sentimentos, mais do que de fluxos, aquilo que palavras não podem dizer, aquela imensidão de paz e calma que alimenta a árvore que cresce no coração dos apaixonados. Aquela árvore rara da qual só tu guardas as sementes: aquela árvore à qual gosto de chamar felicidade. E colhemos os frutos dessa árvore entre gestos e carícias, entre balbucios e suspiros. Entre toques inundados de carinho e apertos repletos de desejo, deixamos a pele de cobra, que todo o mundo vê, no chão frio de mármore, e partimos à descoberta um do outro, de novo, como um só ser. 
O teu braço forte pousa-se no meu corpo, de súbito tão miúdo, e chego-me mais a ti. Provo o teu calor e sinto o teu aroma, ou será o contrário? Que importa. Nada importa, não contigo, não assim, não agora. 
Oh, como seria maravilhoso que todas as manhãs começassem assim.

22.7.12

começa por a


Quando o vazio da tua ausência enche o ar, este torna-se pesado e sufocante.
As minhas mãos tremem na testa latejante, esta fervendo como um incêndio que devasta todas as formas de vida no seu caminho. 
Arrasto-me para as formas brancas redondas que me prometem a paz de espírito, mas de que servem materiais e fórmulas contra a força dos elementos, o verdadeiro motivo de existirem, o mestre que os controla, aquele que tantos dizem sentir. É, muitos o dizem, mas quantos foram os que realmente sentiram uma mão de garras afiadas penetrar-lhes o peito e torcer-lhes o orgão que bombeia o plasma e os leucócitos, as hemácias e as plaquetas, os que sentiram duas correntes de aço entrelaçarem-se em redor do pescoço, os espasmos de dor e prazer a debaterem-se dentro do estômago? Sentimento demasiado avassalador para um corpo humano, demasiado grande, demasiado forte. Sentimento criado pelas próprias deusas, Afrodite e Vénus, essas tão maravilhosas ninfas que na verdade são só uma, essas que anseiam ser o que criaram e sentir o que não podem. E por isso manifestam todos os desejos do ar que não podem respirar soprando-o até um amaldiçoado, um inocente que será submetido a uma toda vida em torno de uma toda pessoa. 
Divago, divago, digo tanto sem dizer nada, mas não é assim mesmo? É, é assim que sempre foi, é assim que acontece quando um ser tão pequeno e fraco tenta descrever uma palavra que nem tem coragem de pronunciar.

21.7.12

blue sky


Os meus olhos perdem-se na imensidão azul e deixo os pensamentos depressivos lá se afogarem.
Como é lindo. Índigo, celeste, turquesa. Tonalidades que se fundem com umas manchas de um branco quase transparente, dispondo-se em camadas, dançando à melodia do silêncio. 
Lá em cima, uma gaivota deixa-se também embalar descontraidamente por aquele vazio, tão cheio.
Calma. Paz. Sim, a qualquer pessoa o azul do céu transmitiria estas sensações, tão serenas, mas a mim transmite-me uma que supera todas as outras: amor.
Sim, o céu lembra-me de ti. Tudo me lembra de ti, está certo, e algo tão belo não poderia ser exceção. 
Ali, com a brisa suave a acariciar-me os poros e o sol brilhante a queimar-me a pele, revivo aqueles momentos passados contigo, a olhar o céu. De olhos semicerrados, mãos dadas, a partilhar um calor que não era inferior ao clima típico de verão, deitados na relva verde e fresca, ainda por cortar. Formas de nuvens se formavam em frente de nossos olhos, acima das nossas cabeças. Eu falava, tu escutavas, que combinação tão estranhamente perfeita. O som da minha voz oscilava com entusiasmo enquanto apontava as formas claras no céu e tu sorrias e fechavas os olhos. Ali sentíamos a felicidade, mais do que o ar que respirávamos, mais do que o sangue que nos circulava nas veias, conseguíamos sentir a felicidade palpável que explodia em nosos corações, a pureza do primeiro amor. E puxava-te para mim, buscando o conforto que sempre encontrei em teus lábios.
Ah, como é lindo, o azul do céu.

20.7.12

something or nothing at all


Tento parar a hemorragia transparente que me escorre pela face, com origem nos olhos, quais cataratas, com um ou dois lenços amassados, cor de nada.
As árvores lá fora bailam com o sopro desse tal de Deus. As aves, todas diferentes, deixam-se ser embaladas, voam para longe, como eu tanto gostava de fazer. Então por que não o faço? Talvez porque a minha vida está dominada por pedaços de papel, assim como a de todos os seres deste mundo, talvez até de outros, quem sabe?
É uma questão de hierarquia, de poder, de força. É uma questão de honra, ou pelo menos é isso em que nos querem fazer crer. Controlar-nos, manipular-nos. Porque é isso que esse papel nos faz: controla-nos. O que somos, o que merecemos, o que fazemos, o que podemos. O passado, o futuro e o presente como o conhecemos. 
Suspiro. É demasiado. Demasiada hipocrisia, demasiada incoerência. Sim, incoerência, porque o mundo contraria-se a si próprio. Factos, factos, factos, e na verdade, nenhum facto é um facto, porque há sempre que o contrarie, há sempre quem proponha uma alternativa a essa verdade. Abutres com fome de mentiras, sanguessugas com sede de morte.
Porquê? É a pergunta que se repete incansáveis vezes num remoinho dentro da minha cabeça. Oh, "porquê". Que pergunta tão covarde, tão medrosa, tão impotente e furiosa. Pergunta sem resposta e que se alimenta do silêncio. Oh, quem nunca fez essa pergunta? Quem nunca enrugou a testa esperando uma resposta que preenchesse todo aquele vazio? E, no final, nunca era obtida. 
E isto porquê?

19.7.12

viste-me?


Quando os meus olhos se pousaram em ti e os meus lábios se afastaram em espanto, quando as minhas pernas ameaçaram deixar de suportar o meu corpo e este ficou sólido como mármore?
Viste o rosto ao qual juraste eterna amizade, o rosto que prometeste nunca abandonar? Voltaste a sentir o meu peso nos teus ombros, as gargalhadas fortes e cheias que lançávamos contra o vento, as lágrimas choradas e abraços sentidos? 
Os gestos de amor, poucos foram. Um ou outro "adoro-te" de vez em quando, mas não precisámos de mais. Porque num olhar trocávamos todo o carinho que nutríamos, e assim ficávamos. Entre brincadeiras debaixo do sol intenso de verão e conversas intermináveis na pedra fria do chão. Assim vivemos como irmãos, sangue do mesmo sangue, carne da mesma carne. Eras o ré da minha pauta, eras a pétala da minha flor, eras a palavra do meu livro.
Eras, não. Foste. Porque rasgaste as fotos que nunca tirámos juntos, apagaste as memórias com uma borracha negra de desprezo e deixaste-me, a perguntar-me o que tinha acontecido. Porque te foste embora? Acreditei que ficarias. Acreditei nas tuas promessas sem som e juras em silêncio. 
Nunca te perdoei deixares-me assim, tão só, tão sem ti. A tentar inutilmente fingir que não sinto a tua falta, a tentar esconder o tanto que foste para mim.
Viste-me?

13.7.12

as palavras - composição do exame


Palavras, doces como o mel, duras como espadas. Palavras graciosas como aviões de papel que têm o coração como destino. Palavras, meras palavras? Não, nada disso. O poder das palavras é inabalável, grotesco, chega até a ser perigoso. As palavras fazem a guerra, as palavras fazem a paz, mas, no entanto, não passam disso, palavras! Conjuntos de letras aglomeradas, organizadas por alguém que não podia ver, ou que via bem demais...
Seria impossível um ser carregado de tamanha covardia como os humanos, sim, esses que se acham donos do céu e da terra, pudesse acarretar em si um valor tão dolorosamente belo como o das palavras!
Por isso fecharam-nas. Numa gaveta apertada fecharam as grandes obras e os pequenos sonetos, rasgaram as veias da poesia e arrancaram as raízes da prosa. Quais livros? Qual escrita?! Largámos o maior tesouro que nos foi cedido e para quê?! Para não estarmos mais de dez segundos a cruzar polegares num bloco eletrónico frio e sem vida?! Onde foi a paixão?! Em que mar a afogámos e lá deixámos? Em que gaveta trancámos a maior das belezas, em que baloiço molhado de chuva abandonámos o livro?! Sim, o livro, sabem do que falo. O livro que acendeu mil e dois sorrisos no rosto de quem deixou cair mil e três lágrimas. O livro que não nos permite saltar páginas mas nos deixa reler o que ficou para trás, o livro que arde no peito e gela as veias, um livro sem capítulos nem páginas contadas!
Seremos nós guerreiros fortes o suficiente para trazer de volta as palavras?

10.7.12

recado na porta do frigorífico

 
Olá almas vagueantes, como estão?
Roubar-vos-ei pouco do vosso tempo mas há algo que me esqueci de publicar aqui - desculpem! - e acho que devo.
Se são leitores assíduos do meu blog - como se tal coisa existisse - sabem que parei de postar a minha história scars... Não, não foi por preguiça ou desistência da minha parte, foi exatamente o contrário: ambição. Sim, levei a minha história para outra plataforma para desenvolver os capítulos - de cinco palavras fiz trezentas, que tal? - e talvez, mais tarde, a lançar realmente em papel e tinta, num livro. É não só um sonho, tornou-se um objetivo.
Espero que me compreendam e apoiem, meus doces.
Inês

6.7.12

if i killed myself tonight

 If I killed myself tonight
Would you think it's all your fault?
Would you hold my dead body,
And apologize to my dead soul?

If my breath died in my throat,
If my brain finally collapsed
Would you lay down by my side,
Would you forget about the past?

Make my wishes be ignored:
If my cold body was buried
Would you put flowers on my grave,
One for every year I lived?

And make my wishes be attended:
If my ashes flew away,
Would you run after the wind,
Would you try to hold me back?

What if my ashes kept on flying
And ended drowning in the sea?
Would you follow them, still,
Would you risk your life for me?

If I kill myself tonight,
And do not be but sincere,
Will you say you love me back,
Or will you only shed a tear? 


3.7.12

i miss you (II)


Lembras-te de como as poucas estrelas que salpicavam o céu deixavam um brilho nos meus olhos escuros?
Eu ainda me lembro do sabor da brisa noturna de setembro. Puxavas-me mais para ti naqueles sofás brancos e podia sentir a tua essência quando o fazias. Uma essência que me fazia sentir na barriga mais do que borboletas e uma onda de mil e um volts percorria todo o meu corpo. Quando me beijavas esta sensação repetia-se, e outra vez, e outra. Os meus lábios anciavam os teus como se fossem água e eu morresse à sede; e nenhuma sensação conseguia superar saber que os tinha.
Naquele momento, naquela noite, um pensamento atravessou-me a mente, pensamento esse que há muito anda perdido: eu era feliz. Ali, envolvida pelos teus braços, perdida nos teus lábios, o que eu sentia era a mais pura felicidade. Eu e tu, nós, nada mais existia, e era assim que eu queria que fosse sempre. Oh, pode ser assim para sempre?
Uma melodia quebrou o silêncio da noite. Da tua boca emanavam os mais belos sons e cantavas baixinho, como quem conta um segredo. Quando te esquecias da letra eu lembrava-ta e acabámos a cantar juntos o refrão, de mãos dadas, perdidos no momento:
"If I could, then I would
I'll go wherever you will go
Way up high or down low,
I'll go wherever you will go"
Jurei a mim própria nunca esquecer as palavras por ti pronunciadas naquela mesma noite. Guardá-las-ei no coração com as memórias que me restam de ti, meu tesouro.


2.7.12

i miss you


Tenho saudades do aroma com origem no forno que percorria toda a minha cozinha. Aquele aroma doce que fazia crescer água na boca e faria qualquer pessoa desligar o forno antes do tempo. Porém, não o fazíamos, pois o tempo passava num piscar de olhos enquanto me encostavas a um armário, seguravas a minha cara com ambas as mãos e me beijavas apaixonadamente. Sempre adorei todo aquele processo de fazer bolachas contigo. Lembras-te? Lembras-te da maneira como eu me aproximava sorrateiramente por trás de ti e pintava o teu nariz com a mesma massa que tu levavas à boca quando eu não estava a ver, porque sabes o quanto odeio que o faças. Lembras-te de como tentavas lambê-lo e depois me perseguias até me deixares dez vezes pior do que estavas? E de como eu me fingia amuada a um canto até não aguentar mais e correr em busca dos teus lábios?
Sim, eu lembro-me. Também me lembro de afogar aquelas bolachas salpicadas de pepitas de chocolate ou pintarolas coloridas no leite frio e de como tu costumavas fazer uma careta quando vias a minha chávena cheia de migalhas minúsculas. Lembro-me do calor que nos envolvia enquanto assistíamos a um filme de desenhos animados agarradinhos... Lembro-te de ver, pelo canto do olho, um sorriso pateta no teu rosto enquanto me observavas. Lembro-me de como costumávamos passar mais tempo a trocar carinhos do que a realmente ver o filme e de como isso não importava, porque a pureza do nosso amor fazia qualquer outra coisa parecer dispensável, fútil, vazia. Nada tinha qualquer tipo de importância quando me encontrava perdida nos teus braços, e não nas trevas, em que agora me encontro.
Tenho saudades da tua presença.

1.7.12

alone in the night


Comecei a escrever e apaguei as palavras como se as tentasse afastar. E de novo o fiz, e novamente. 
Perdi a conta às lágrimas que deixaram um rasto ardente na minha face pálida e não sei descrever a cor exata das meias luas debaixo dos meus olhos. Nos meus lábios são abertas fendas como em mármore antiga. As minhas pestanas encharcadas pressionam a minha pele com força tentando parar as cascatas que brotam dos meus olhos, nos quais reina a escuridão.
Quando a tua presença não se manifesta o meu corpo parece reduzir o seu tamanho, mas não o suficiente para poder esconder-me num cantinho qualquer. Desta dor, desta mágoa, da mão gigante que me espreme o coração, que o esmaga, que o rasga até ficar sem sangue. Então por que razão não morro? Que propósito pode ter a minha vida insignificante para não me deixarem encontrar a paz?
Os meus demónios interiores ganham forma e força e, desta vez, não estás aqui para os combater. Uma espada flamejante não pende nas tuas costas nem uma lança mortal reside nas tuas mãos. Não estás aqui, não queres estar aqui. Vagueias sem mim nesse teu mundo à parte ao qual um dia pertenci... No qual um dia me quiseste.
Quando fecho suavemente os olhos, no silêncio da noite, consigo voltar a sentir os teus beijos apaixonados. Consigo sentir de novo a força com que a tua boca saboreou a minha e o meu corpo foi esmagado contra o teu, consigo reviver todas as emoções que me fizeste sentir...
Mas sempre que voltar a abrir os olhos, nada se fará sentir que não a tua ausência. Então porque não fechá-los para sempre?