25.12.13

useless



Perco-me em textos antigos e percebo o quão parva fui por crer em algo que nunca existiu, mentiras que me contavas sem um porquê, só porque sim, só porque sabias que podias, porque eu não te dizia que não, nunca te disse que não. Tudo o que te dizia era com amor, fruto do que senti por ti, sentimento esse que só tu provocaste, com palavras doces banhadas em mel e ilusão, porque não passaste disso. Tapavas-me os olhos e sussurravas-me ao ouvido, tocavas os meus lábios ao de leve e deixavas-me assim, perdida em ti, mesmo sem cá estares. Porque a tua presença estava em mim e, mesmo agora, quando te tento sacudir, as palavras que me dizias ressoam na minha mente antes de adormecer. E a quantas mais as disseste? Quantas mais vezes proferiste essas palavras ocas, que nada significavam para ti? Quantas mais foram, como eu, nesse teu engano azul e vasto como o oceano que são os teus olhos?
Espero que tenha valido a pena.

sê meu



Não tem sido fácil.
A tua voz continua a arrepiar-me; o teu toque preenche-me de energia. E não poder tê-los, não te poder ter, quando te quero e preciso, não te poder ter por inteiro; dói, e magoa. Mas pior do que não te poder ter é não quereres que eu te tenha; nem me quereres com a mesma intensidade, o mesmo sentimento que te entrego, a mesma vontade louca de algo maior. Porque, sabes? Eu tenho-na. Em toda mim; no coração, na mente. Na ponta dos meus dedos quando te escrevo, na tinta da caneta quando desenho, em todas as lágrimas que chorei por ti antes de adormecer, eu tenho-na. Mas fazes-me falta, meu doce, eu só não te digo, porque custa-me mais magoar-te do que esconder os meus reais sentimentos. 
Então vou-te amando em silêncio e devagar, como passinhos de lã de uma criança curiosa na manhã de Natal. Vou-te amando sem dizer, em músicas de piano trauteadas sem letra; em danças nas pontas dos pés; em gotas de chuva. Gotas essas que nos molharam os beijos naquele dia de que te lembras tão bem, de que eu não me esqueço. Chuva, beijos e palavras que não foram ditas, mas que, mesmo assim, foram ouvidas, porque sabes bem o que eu não te disse, sabes o que eu sinto.
Então entrega-te a mim, sem medos. Aceitarei o teu coração e guardá-lo-ei numa caixinha forrada a ouro, dentro de outra, e de outra, e de outra, dentro de caixas suficientes para que quem mo queira roubar mude de ideias, para que esteja seguro. Protejo-o com a minha vida, se mo deres, e se aceitares o meu, que já te pertence.
Mas para isso tens de deixar o medo de lado, meu amor.
E isso também não será fácil.