7.7.15

3 a.m.


São três da manhã e eu não consigo adormecer, prometi a mim mesma ir dormir mais cedo hoje, mas o meu cérebro não para, escrevo-te num caderno de matemática, apenas porque era o que se encontrava mais perto, e eu precisava de te escrever.
São três da manhã e eu dei por mim no teu facebook, à procura não sei de quê, mas, fosse o que fosse, não o encontrei, nem sei como lá fui parar, meio por acaso, meio sem querer, da mesma forma que me encontrei a gostar de ti, há tanto tempo.
São três da manhã e já falo de ti como se de nada, além de passado, te tratasses, um erro, uma sombra, uma pedra no caminho, e eu que sou tão boa a tropeçar...! E, no entanto, quando penso em ti, só se me assomam à mente os momentos bons, e eu sei tão, tão bem, que a cada um deles correspondem dez, cem, mil momentos maus, tanto choro, tantas lágrimas, tantos gritos, mas não controlo as minhas memórias de ti, quem me dera poder.
São três da manhã e faz quase um ano desde a última vez que te vi, antes não tivesse visto, que mania esta da vida de nos pregar rasteiras, e, outra vez, lá tropecei, e fui de cara ao chão quando te vi, claro está.
São três da manhã e aqui estou, e tu também, não nos falamos há anos mas assombras-me todos os dias, com esse teu nome que me persegue, com aqueles sítios onde passamos, e eu nem sei por onde passas agora, nem sei onde estás, nem onde nem como, espero que longe, espero nunca mais ter de trocar um olhar contigo, quem me dera nunca ter trocado nenhum.
São três da manhã e que merda de primeiro amor que eu escolhi, amor esse que, mesmo apagado, me persegue, como que tentando sufocar-me com o fumo das cinzas que dele restam, amor esse que eu quis, sim, eu quis-lo, mas eu era nova e ingénua e o único fogo que conhecia era o calor da lareira, não sabia o quanto o fogo podia devastar realmente, não sabia o quanto eu podia ser devastada.

9.2.14

somos um


Estás em mim de forma tão presente que me custa a acreditar que seja real. Viajas pelo meu corpo usando o sangue como único meio e voltas ao coração tão depressa que pareces recear ser substituído enquanto não estás. Mas como poderia eu alguma vez substituir-te? Nunca existiria, tão-pouco, alguém que te pudesse substituir. Alguém que me pudesse fazer sentir desta forma, como se cada golfada de ar fosse estar a encher-me, outra vez, de vida, e não apenas outro suspiro cansado por não estar morta. Alguém que me fizesse tão sua, desta forma que tu encontraste de o fazeres, sem ser preciso eu dizer-te como, sem ser preciso um bilhete na mesa de cabeceira ou uma palavra sussurrada ao ouvido, sem ser preciso nada além de um olhar e um beijo, como aqueles beijos, aqueles beijos nos quais me amas e nos quais eu te amo a ti, cada um como se fosse o último, porque... e se fosse? Se eu perdesse o fôlego num beijo e não sorrisse nem abrisse os olhos, se me fosse assim tão facilmente, como as folhas na beira da estrada que não sobreviveram à vinda do outono? Mas não, porque, contigo, morrer assim nada mais era do que deitar a perder toda esta felicidade que me fazes sentir, todo este amor que me entregas. Morrer assim seria perder-te, que é pior que morrer, meu amor, uma vida sem ti seria muito mais dolorosa do que qualquer morte, e olha que muitas vezes eu já me deixei morrer. Mas não contigo, nunca contigo, porque do teu lado é diferente... Do teu lado há propósito, há força. É como sempre me disseram: quando há amor, há tudo. 
E eu tenho tudo quando te tenho a ti...

25.12.13

useless



Perco-me em textos antigos e percebo o quão parva fui por crer em algo que nunca existiu, mentiras que me contavas sem um porquê, só porque sim, só porque sabias que podias, porque eu não te dizia que não, nunca te disse que não. Tudo o que te dizia era com amor, fruto do que senti por ti, sentimento esse que só tu provocaste, com palavras doces banhadas em mel e ilusão, porque não passaste disso. Tapavas-me os olhos e sussurravas-me ao ouvido, tocavas os meus lábios ao de leve e deixavas-me assim, perdida em ti, mesmo sem cá estares. Porque a tua presença estava em mim e, mesmo agora, quando te tento sacudir, as palavras que me dizias ressoam na minha mente antes de adormecer. E a quantas mais as disseste? Quantas mais vezes proferiste essas palavras ocas, que nada significavam para ti? Quantas mais foram, como eu, nesse teu engano azul e vasto como o oceano que são os teus olhos?
Espero que tenha valido a pena.

sê meu



Não tem sido fácil.
A tua voz continua a arrepiar-me; o teu toque preenche-me de energia. E não poder tê-los, não te poder ter, quando te quero e preciso, não te poder ter por inteiro; dói, e magoa. Mas pior do que não te poder ter é não quereres que eu te tenha; nem me quereres com a mesma intensidade, o mesmo sentimento que te entrego, a mesma vontade louca de algo maior. Porque, sabes? Eu tenho-na. Em toda mim; no coração, na mente. Na ponta dos meus dedos quando te escrevo, na tinta da caneta quando desenho, em todas as lágrimas que chorei por ti antes de adormecer, eu tenho-na. Mas fazes-me falta, meu doce, eu só não te digo, porque custa-me mais magoar-te do que esconder os meus reais sentimentos. 
Então vou-te amando em silêncio e devagar, como passinhos de lã de uma criança curiosa na manhã de Natal. Vou-te amando sem dizer, em músicas de piano trauteadas sem letra; em danças nas pontas dos pés; em gotas de chuva. Gotas essas que nos molharam os beijos naquele dia de que te lembras tão bem, de que eu não me esqueço. Chuva, beijos e palavras que não foram ditas, mas que, mesmo assim, foram ouvidas, porque sabes bem o que eu não te disse, sabes o que eu sinto.
Então entrega-te a mim, sem medos. Aceitarei o teu coração e guardá-lo-ei numa caixinha forrada a ouro, dentro de outra, e de outra, e de outra, dentro de caixas suficientes para que quem mo queira roubar mude de ideias, para que esteja seguro. Protejo-o com a minha vida, se mo deres, e se aceitares o meu, que já te pertence.
Mas para isso tens de deixar o medo de lado, meu amor.
E isso também não será fácil.

31.10.13

you're falling away


Tentei sacudir-te de mim. Como resultado consegui apenas que me agarrasses toda outra vez, cada pedaço de mim que nunca quiseste que fosse teu, estás em cada um deles. Por mais que te tente afastar, desprender-me de ti, deixar de te ter sempre presente no meu pensamento... Já é tarde. Deixei que fizesses parte de mim, deixei que entrasses no meu coração e agora não há forma de estacar a dor que causaste ao sair, dizendo que foi um erro, fui um erro?
Estás em mim da forma que eu quis estar em ti. Estás em todas as canções de amor que ouço, em todas as lágrimas que choro e em todas as gotas de chuva que vejo cair. E, quando não há chuva, estás no céu, céu esse que, mesmo assim, nunca conseguirá imitar a cor dos teus olhos. Será que é tudo por isso? Por esses olhos cor de mar que me enfeitiçaram desde o primeiro momento?
Não. É que, sabes, olhos azuis há muitos. Mas tu és raro. Todo tu és uma raridade e fascinas-me, a forma como me tiras as palavras, a forma como me fazes chorar, a forma como me deixas tão enraivecida que me dói o coração. Fascina-me a forma como me fazes sentir, sentir tão intensamente. E, ao mesmo tempo, sufoca-me. Por ser tão em vão, tão inútil, porque nada foi verdade e ainda assim eu acreditei, porque é que fui acreditar? Talvez porque te queria, porque te quero, mesmo sem te poder ter.
Mas és tudo o que eu queria.

21.10.13

ocean eyes (V)




Deixo-te ir embora,
pairando ,
nesse oceano 
que são os teus olhos,

Porque tudo o que 
te dei 
não chegou 
e já mais não 
te posso dar.

Então sai de mim.