26.8.12

i miss you (IV)


Onde andas? Vagueias como eu, cabisbaixo, no vazio da ausência, na escuridão da espera? Pensas em mim? Os teus pensamentos foram desorganizados por uma onda violenta, como as que embatiam furiosas, aquelas que observamos entre beijos, sentados, abraçados, nas rochas de Vila do Conde? Sim, naquele dia, lembras-te? Guarda-lo na memória como eu? A dureza das rochas contra a suavidade do teu abraço, a força das ondas contra a doçura dos teus lábios a dançarem com os meus. Guardo as fotos desse dia, que te pedi incansavelmente, tu que nunca gostaste de fotos, eu que sempre as adorei. Preferes o momento, sempre mo disseste, então e agora? O que fazes agora, o que sentes, nesta vida cheia de nada? Estou incompleta sem ti, o meu ser não se conforma com a falta do teu amor, aquele que me preenchia de felicidade enquanto sentia o teu corpo quente contra o meu, na revolta de lençóis. Aquecias-me num dia frio de Inverno, o leite frio na mesa de cabeceira e as migalhas no nosso colo, olhares trocados com doçura, risos que nos faziam engasgar no lanche. Pepitas que saltavam, pingas que voavam, os sorrisos a tornarem-se em gargalhadas, e nós nem sabíamos de que estávamos a rir. Ríamos do mundo, do mundo lá fora, atrás da persiana fechada, a tapar a luz incómoda. Ríamos do mundo que desconhecia o amor de verdade, aquele que vivíamos no momento, que palpitava nos nossos corações.
Onde andas?

24.8.12

volta para mim


Deixa-me apagar o gelado dos meus pés no calor de tuas pernas. 
Partilha um lençol comigo e junta a tua almofada à minha, protege-me nesse abraço tão teu e não me largues mais. Não me deixes mais, meu amor, fica comigo assim, sempre. Deixa-me ser tua como quero que sejas meu. Permite-me provar do mais doce aroma, fruto dos frutos, qual ambrósia, criado pelos deuses mais perfecionistas que habitam Olimpo. Afrodite, que te encantou com as mais amorosas palavras, os mais dóceis gestos e as mais queridas carícias. Ártemis, que te encheu a alma de coragem e garra. Atena, que te ensinou os maiores cultos aos quais só os grandes sábios têm acesso. Hefesto, que te moldou os dedos tão dotados de talentos, que te fez passar o lápis sobre papel, criar magia. Ares, que te construíu o corpo, as formas, a força que te passa nas veias bombeada do coração. Dionísio, que te regou com o sorriso que brilha mais do que todas as estrelas no céu de dezembro. E Zeus, o mestre, o deus dos deuses, o santo dos santos, que te deu a vida, a vida que em toda a ti habita, que se mostra em todos os gestos, que o teu olhar me lança, a vida da qual tenho sede, a vida que em tempos fora minha.
Deixa-me beijar teus tenros lábios e voltar a ter-te para mim, só para mim. Volta a fazer-me tua, como tu és meu, como sempre foste meu, volta a amar-me, como sempre me amaste, como sempre te amei. Volta para aquela que espera por ti, aquela que sempre te quis.
Volta para mim, porque eu preciso de ti.

23.8.12

i miss you (III)


Sozinha e com frio, espero a mesa da cozinha fazer-se vibrar com a mensagem que tanto anseio receber. Sim, sabes qual. A mensagem que prometeste mandar-me, a mensagem que mudaria tudo neste momento, a mensagem que não chega, assim como tu não chegas, assim como o momento em que estarei de novo nos teus braços não chega. E uma saudade avassaladora apodera-se do meu coração como um veneno conhecido: escorre pelas suas paredes, revolve-se no seu interior. Cada batimento empurra o sangue envenenado pelas minhas veias e artérias, fá-lo percorrer todo o meu corpo, chegar ao cérebro, chegar-me à mente. Queima-me as células, corrói-me o ser, arde como um fogo que não se pode ver. A minha cabeça entoa músicas antigas, de quanto te tinha, poesias criadas tendo-te apenas como inspiração.
Não retraio em mim esta saudade de um dia e poucas horas sem ti, mas sinto a saudade dos dias que virão sem poder provar os teus doces lábios, sentir o teu modesto aroma, ouvir a tua apaguizante voz e olhar os teus profundos olhos. Desconheço o tempo que me resta sem ti, o tempo que terei de suportar até voltar a sentir os teus dedos brincalhões na minha cintura, fazendo-me soltar gargalhadas fortes e cheias. Desconheço quanto tempo terei de viver assim, mas viverei todo esse tempo com uma esperança na garganta seca: todos os dias estou mais longe da última vez que te tive, mas mais perto da próxima vez que te terei.

19.8.12

o eternamente não foi tão eterno assim


 Acordo todas as manhãs com a face áspera das lágrimas que nela secaram. 
Depois de uma hora a debater-me contra outras que ameaçam cair, na minha cama de casal demasiado fria e sozinha, atiro os cobertores para longe e olho pela janela.
O mundo gira, lá fora. A vida continua. As nuvens dissipam-se, as estações passam. As luas mudam.
Todos os dias vida é criada e tirada. Todos os dias nasce e morre amor no coração de um ser solitário qualquer. Todos os dias eu morro mais um pouco por dentro.
No céu matinal vestido de puro azul, o sol resplandecente parece gritar contra o vento, chamar por aquela que foi sua, berrar em silêncio.
O ponteiro dos segundos leva horas a mover-se. Os números no relógio parecem diminuir o tamanho e afastar-se, testando-me, perguntando-me quanto tempo aguentarei esta farsa.
Nas ondas alaranjadas e rosadas do céu de fim de tarde, a lua ergue-se só, esperando as estrelas que mais abaixo a seguram, quando avista ao longe aquele que foi seu desaparecendo no horizonte. E lágrimas angustiadas percorrem as suas crateras quando a escuridão toma conta do céu.
Todas as noites, a mesma pergunta. As vozes graves a interromperem-se com nada mais que a mesma acusação, inquirindo-me ameaçadoras com uma só questão: Será que fiz bem?
Não como. Passo noites em branco, recordando momentos, palavras, juras e promessas, beijos adoçados com mel e polvilhados de açucar.
Uma réstia de brilho surge nos meus olhos, ensombrados por uma névoa de desilusão e mágoa, quando o telemóvel se acende e me deixa ver os nossos rostos felizes na foto que não tive coragem de apagar. Sinto uma esperança tola de que o teu nome surgirá debaixo do vidro... Mas as lágrimas, que há tanto tempo conseguia domar, soltam-se ferozmente com um gemido choroso, finalmente livres de me encharcar a pele. A intensidade do choro implacável aumenta quando a fotografia emoldurada de prateado na minha mesa de cabeceira se ilumina... e tudo volta. Ali, no escuro da noite, sou levada a afogar-me em memórias de dois anos passados ao lado daquele que foi meu.

18.8.12

- estou?

 
- 'Tou.
- Como estás?
- Ocupado.
- Não me tens respondido aos telefonemas...
- ...
- Amor?
- Tenho de ir.
- Está bem. Am-
Tu, tu, tu...

O som da tua voz deixou de flutuar com o vento até aos meus ouvidos. Mais doce que maçãs caramelizadas ou chá de limão com mel. A doçura entorpecia-me a garganta e revolvia-se em meu estômago, mas onde foi? Voou para longe, nas asas de uma ave qualquer, uma ave livre como eu não posso ser. Correntes frias apertam-me os tornozelos e prendem-me a circulação, ligam-me a a ti, prendem-me a ti. O amor com que antes me preenchias, o amor que me deixavas correr nas veias e artérias, o amor que afogava os meus orgãos e queimava os ossos. A paixão ardente, fogosa, com que me tomavas em teus braços e com que saboreavas os meus lábios, que eram, que são, teus, com que percorrias o corpo que tanto desejavas. 
Divago. Como nas outras vezes que deixei a caneta guiar-me na transmissão de emoções para o papel frio, encontro-me a divagar num navio perdido, ondulando com as ondas da memória e procurando um rasto de pólvora que me permita acendê-las de novo. A chama que esmoreceu, o amor que dizias que aumentaria sempre, momento após momento, e que quase já não ves. Derreteu como um rebuçado de menta na língua de uma criança que o quer fazer durar o máximo possível. Como essa criança, agora rebolo o pequeno doce, manipulo-o. Tento desesperadamente fazê-lo durar, tento desesperadamente mantê-lo intacto como antes, tento, tento, tento...
Volta a refrescar o meu corpo com o doce sabor de menta e aquece o meu coração com o fogo que nele ateaste há dois anos atrás, e que continua a arder, mais forte, mais intenso.