20.7.12

something or nothing at all


Tento parar a hemorragia transparente que me escorre pela face, com origem nos olhos, quais cataratas, com um ou dois lenços amassados, cor de nada.
As árvores lá fora bailam com o sopro desse tal de Deus. As aves, todas diferentes, deixam-se ser embaladas, voam para longe, como eu tanto gostava de fazer. Então por que não o faço? Talvez porque a minha vida está dominada por pedaços de papel, assim como a de todos os seres deste mundo, talvez até de outros, quem sabe?
É uma questão de hierarquia, de poder, de força. É uma questão de honra, ou pelo menos é isso em que nos querem fazer crer. Controlar-nos, manipular-nos. Porque é isso que esse papel nos faz: controla-nos. O que somos, o que merecemos, o que fazemos, o que podemos. O passado, o futuro e o presente como o conhecemos. 
Suspiro. É demasiado. Demasiada hipocrisia, demasiada incoerência. Sim, incoerência, porque o mundo contraria-se a si próprio. Factos, factos, factos, e na verdade, nenhum facto é um facto, porque há sempre que o contrarie, há sempre quem proponha uma alternativa a essa verdade. Abutres com fome de mentiras, sanguessugas com sede de morte.
Porquê? É a pergunta que se repete incansáveis vezes num remoinho dentro da minha cabeça. Oh, "porquê". Que pergunta tão covarde, tão medrosa, tão impotente e furiosa. Pergunta sem resposta e que se alimenta do silêncio. Oh, quem nunca fez essa pergunta? Quem nunca enrugou a testa esperando uma resposta que preenchesse todo aquele vazio? E, no final, nunca era obtida. 
E isto porquê?

1 comentário:

  1. Está tão verdadeiro. Mostra o que é realmente o mundo, o que grande maioria das pessoas são. Adorei!

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