19.8.12

o eternamente não foi tão eterno assim


 Acordo todas as manhãs com a face áspera das lágrimas que nela secaram. 
Depois de uma hora a debater-me contra outras que ameaçam cair, na minha cama de casal demasiado fria e sozinha, atiro os cobertores para longe e olho pela janela.
O mundo gira, lá fora. A vida continua. As nuvens dissipam-se, as estações passam. As luas mudam.
Todos os dias vida é criada e tirada. Todos os dias nasce e morre amor no coração de um ser solitário qualquer. Todos os dias eu morro mais um pouco por dentro.
No céu matinal vestido de puro azul, o sol resplandecente parece gritar contra o vento, chamar por aquela que foi sua, berrar em silêncio.
O ponteiro dos segundos leva horas a mover-se. Os números no relógio parecem diminuir o tamanho e afastar-se, testando-me, perguntando-me quanto tempo aguentarei esta farsa.
Nas ondas alaranjadas e rosadas do céu de fim de tarde, a lua ergue-se só, esperando as estrelas que mais abaixo a seguram, quando avista ao longe aquele que foi seu desaparecendo no horizonte. E lágrimas angustiadas percorrem as suas crateras quando a escuridão toma conta do céu.
Todas as noites, a mesma pergunta. As vozes graves a interromperem-se com nada mais que a mesma acusação, inquirindo-me ameaçadoras com uma só questão: Será que fiz bem?
Não como. Passo noites em branco, recordando momentos, palavras, juras e promessas, beijos adoçados com mel e polvilhados de açucar.
Uma réstia de brilho surge nos meus olhos, ensombrados por uma névoa de desilusão e mágoa, quando o telemóvel se acende e me deixa ver os nossos rostos felizes na foto que não tive coragem de apagar. Sinto uma esperança tola de que o teu nome surgirá debaixo do vidro... Mas as lágrimas, que há tanto tempo conseguia domar, soltam-se ferozmente com um gemido choroso, finalmente livres de me encharcar a pele. A intensidade do choro implacável aumenta quando a fotografia emoldurada de prateado na minha mesa de cabeceira se ilumina... e tudo volta. Ali, no escuro da noite, sou levada a afogar-me em memórias de dois anos passados ao lado daquele que foi meu.

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