18.8.12

- estou?

 
- 'Tou.
- Como estás?
- Ocupado.
- Não me tens respondido aos telefonemas...
- ...
- Amor?
- Tenho de ir.
- Está bem. Am-
Tu, tu, tu...

O som da tua voz deixou de flutuar com o vento até aos meus ouvidos. Mais doce que maçãs caramelizadas ou chá de limão com mel. A doçura entorpecia-me a garganta e revolvia-se em meu estômago, mas onde foi? Voou para longe, nas asas de uma ave qualquer, uma ave livre como eu não posso ser. Correntes frias apertam-me os tornozelos e prendem-me a circulação, ligam-me a a ti, prendem-me a ti. O amor com que antes me preenchias, o amor que me deixavas correr nas veias e artérias, o amor que afogava os meus orgãos e queimava os ossos. A paixão ardente, fogosa, com que me tomavas em teus braços e com que saboreavas os meus lábios, que eram, que são, teus, com que percorrias o corpo que tanto desejavas. 
Divago. Como nas outras vezes que deixei a caneta guiar-me na transmissão de emoções para o papel frio, encontro-me a divagar num navio perdido, ondulando com as ondas da memória e procurando um rasto de pólvora que me permita acendê-las de novo. A chama que esmoreceu, o amor que dizias que aumentaria sempre, momento após momento, e que quase já não ves. Derreteu como um rebuçado de menta na língua de uma criança que o quer fazer durar o máximo possível. Como essa criança, agora rebolo o pequeno doce, manipulo-o. Tento desesperadamente fazê-lo durar, tento desesperadamente mantê-lo intacto como antes, tento, tento, tento...
Volta a refrescar o meu corpo com o doce sabor de menta e aquece o meu coração com o fogo que nele ateaste há dois anos atrás, e que continua a arder, mais forte, mais intenso.

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