16.6.13

memories




Aproximei-me da caixa cor de rosa que mantive intacta num canto do meu quarto e abri-a, sem saber o porquê. Mas o meu corpo já não me pertencia e não havia nada que eu pudesse fazer; deixei-me levar. Sem dar conta, tinha já tomado a tua camisola nas mãos, aquela que me deste e que eu tantas vezes usei para cobrir o corpo nas noites quentes de verão em que tu não estavas lá. E surpreendi-me ao sentir o teu cheiro ainda nela, entrenhado entre os fios de algodão como tu estás entrenhado em mim. Dei por mim a não querer largar aquela camisola suave, com a qual eu tantas vezes te vi, desejando contudo ver-te despido - não dela - mas de toda uma pele que nunca me interessou, uma pele de mentiras arrastadas e de factos supérfluos. 
Tive também nas mãos a pinha que um dia me ofereceste e que ainda cheira a outono, e tive na mão a caixa que guarda as pétalas da primeira rosa que me deste. Lembro-me tão bem de a ver na tua mão, era vermelha como sangue e tinha as pontas já roxas, do calor que fazia nesse dia. Não tinha espinhos, era uma rosa perfeita; não como eu, com pétalas murchas e um caule feito apenas de espinhos. Mas recordo-me do cuidado que tivera ao tirar-lhe as pétalas para que não se quebrassem, como se fossem finas lentes de vidro à espera de um erro para se estilhaçarem nos meus dedos.
Como essas, guardo também as pétalas do ramo que me ofereceste. Guardo pulseiras e colares com dizeres como Forever e Lock Our Love. Esse primeiro que acabou e esse segundo que não bastou. E guardo fotos, oh, as fotos, como a que tive na mão, o teu rosto, um rosto que tanto desejo voltar a ver, mas sem querer. Sorri para ti, porque tu também sorrias para mim, e naquele dia foi tudo tão fácil, era tudo tão fácil, amar-te era tão fácil...
Então como foi que mudámos, coração? 
Como foi que escolhi guardar toda uma vida numa caixa poeirenta arrumada num canto do quarto?

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