27.9.12

"alguém aqui sofre do coração?"


Sim, stôr. Sim, eu, aqui, ondas ruivas apanhadas num elático branco que nem me pertence. Sim, eu, calças justas e pretas. Eu sofro, professor, mas não se vê. Os médicos não percebem, os meus pais não entendem, mas eu sofro. A cada segundo sem ele uma facada de dor dilacera-me os ventrículos, sou sufocada pelo desespero, e sabe o que dói mais, professor? É não saber, ignorar se quiser, quando o voltarei a ter, se voltarei a ter, e esta nova hipótese ainda me deixa mais angustiada, e só lhe quero ligar, só o quero ouvir mais uma vez... Mas não posso, tenho de ser forte, professor, mas sou tão fraca. Banhe-me em ferro, revista-me de mármore, não importa, a fraqueza não se vê mas eu sinto, sinto muito, infelizmente, porque arruina-me, destrói-me, mata-me sem eu morrer... 
Não consigo correr, professor, não me mexo tão-pouco, só se mexe o meu coração, esse de que sofro, espasmos de agonia, a dor angustiante, porque não morre? As pernas fraquejam, ameaçam deixar-me cair e eu? Só o vejo a ele, o meu pedaço de céu, está em todo o lado, doce miragem que não passa disso e desaparece tão depressa quanto  aparece, suspiros de frustração, lágrimas como lâminas a cortarem-me o rosto pálido, como as lâminas que me tiraram, e que me fazem falta, fazem-me tanta falta, mas é segredo, professor, não conte a ninguém, está bem?

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