10.6.12

"eu não te amo"


Com o coração inundado de medo, perscrutei o edifício que em tempos me fora estranhamente familiar. Um ambiente estranho dava ao ar uma áspera sensação de tristeza, de vazio. Toda eu era calafrios e tentei recompor-me em duas ou três milésimas de segundo. Fui, claramente, insucedida.
Baixei-me para recolher nos meus braços uma bola de pelo cheia de vida. Um sorriso aflorou-me nos lábios secos, fazendo-os rasgarem-se violentamente e chorarem sangue sem que eu desse por isso, e encostei o meu nariz ao da pequena criatura que tantas memórias me trazia. 
Um ruído despertou-me desta aura de magia e deixei o gatinho guiar-me na busca pela sua causa.
Foi aqui que te vi.
O teu cabelo rebelde tinha-se tornado mais escuro e a tua pele mais fraca. Admirei o teu corpo numa t-shirt clara e as calças escuras que sempre te cobriam as pernas. Admirei os teus ombros largos, braços fortes e mãos... Oh, o que sentira nas vezes em que me entregara àquelas mãos. 
Quando o teu corpo girou na minha direção, a intensidade do teu olhar fez o meu coração descer ao estômago e a minha traqueia dar um nó em si própria. Imediatamente depois desci a teus lábios e mais não vi: por muito que me tivesse tentado convencer a controlar este desejo insaciável, lancei o peso do meu corpo sobre o teu e esmaguei os teus lábios com os meus. Ansiava pela tua essência, queria provar-te de novo, queria que voltasses a ser meu.
Não me mostrei surpreendida quando a tua força abismal me empurrou contra uma parede do outro lado da casa, nem quando o teu olhar duro me gelou as veias, mas consegui ouvir, sentir, ver, cada pedacinho do meu coração a saltar quando disseste aquelas quatro pequenas palavras, que ambos sabíamos serem bem mais do que simples palavras.

Insecáveis eram as lágrimas que me escorriam pela face quando acordei deste pesadelo, tão real.

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