1.2.12

scars - cap. IV


Ela chegou cinco minutos mais tarde, claro. Não faz mal. Não me importava qque chegasse cinco horas atrasada. Esperaria por ela eternamente, só para desvendar o mistério que paira por trás dos seus olhos.
Chega com os fones nos ouvidos e os cabelos soltos, dançando com o vento numa silenciosa harmonia. Vem cabisbaixa, hesitante, como que calculando cada um dos seus passos antes de realmente os dar.
- O que estás a ouvir? - pergunto-lhe, mas não espero resposta. Tiro-lhe um dos fones das orelhas, reparando no seu brinco peculiar em forma de cobra que se enlaça à volta da orelha, e coloco-o na minha.
- Nirvana! Impressionante miúda. Tens bom gosto.
Ela levanta a cabeça repentinamente, arrancando-o com esse movimento o fone do ouvido, e penetra a minha alma com as esmeraldas, acesas de um fogo rebelde e indomável, a que ela chama de olhos.
- Importas-te de parar de me chamar miúda?!
- Eich, desculpa. Mas já agora, que idade tens?
- A minha definição de idade não é o que consta num papel, mas o que sentimos cá dentro.
- Eu tenho 17. No papel, vá.
- Não és um bocado velho para estares no 10º?
- Reprovei um ano. Não sou estúpido, não penses que sou. Mudei de país, e, consequentemente, de escola, e o sistema largou-me no primeiro buraco que encontrou. E tu não és um bocado nova?
- Avancei um ano.
- Uh, sobredotada? - mostrei-me arrogantemente surpreendido, mas não estava. Via-se que era esperta, madura e... e linda!
 


Esforçava-me para não corar enquanto Tiago mostrava tanto interesse na minha pessoa. As perguntas acumulavam-se e a conversa tornava-se cada vez mais interessante. Entre os  ligeiros sorrisos e os olhares que me lançava, eu ia-me perdendo, as minhas pernas tremiam e o meu coração estava acelarado. Ele aproxima-se, ficando a apenas três centímetros: sinto a sua respiração quente na minha face.
- Então miú... Mafalda. Deixemo-nos de empatar. De que és capaz, afinal?
Tento mostrar-me minimamente sã:
- Oh... Tens muito pela frente, antes de descobrires.
Ele lambe o lábio inferior, e mordisca-o, pensativo. Isto faz-me quase cair, mas mantenho me de pé, a tremer de nervosa, com vontade de...
- Acho que devíamos sair, um dia destes. - ele interrompe os meus pensamentos, enquanto me afasta uma madeixa de cabelo da frente dos olhos.
- Talvez.
- Não mereço um gesto de despedida, sequer? - ele aproxima-se até eu conseguir  sentir a batida do seu coração. Os nossos lábios ficam a milímetros de distância, e a minha vontade era acabar com isso. Mas não me ia render assim tão facilmente.
- Não me parece. - afasto-me, sorrindo com um dos cantos da boca - Foi uma boa conversa. Havemos de repetir.
- Sim. - ele agarra-me o braço e beija-me a face, inesperadamente. - Sim, havemos de repetir.

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