1.12.12

eras o meu outono


Eras o calor nas minhas faces nas noites mais quentes, eras o frio nos meus pés nas tardes mais gélidas. Eras o orvalho que escorria nos trevos de quatro folhas, eras o sol refletido nas tábuas saídas e telhas partidas. Eras o cheiro da relva acabada de cortar, eras o sabor dos primeiros flocos de neve. E eras a força da chuva. Eras a graça do sol. E a dança do vento com as folhas amarelas, vermelhas, rosadas e castanhas. Eras uma palete com todas as cores, e eu pintava com os dedos nas paredes brancas do meu coração. Eras amor e eras ódio. Eras a luz e as trevas. Eras fogo e eras gelo, eras tudo e eras nada, o concreto e o abstrato, o impossível. 
Mas eras sempre muito, e nunca foste pouco.
Foste a chuva quente de julho e o sol a espreitar no céu de fevereiro. Foste o chocolate quente nas mãos e o chá gelado nos lábios. Foste o cheiro das primeiras flores de uma nova primavera, foste os ramos despidos a abanar ao vento. Foste acordes e notas da música mais bela, e eu dançava em bicos de pés. E foste a luz pálida da manhã. Foste as estrelas na noite escura. Foste o desejo que não se realizou e a carta que não recebi. E foste a dor. Foste a dor constante e foste lapsos de alegria que pareciam não passar de ilusões. Foste o sim e o não. Foste o talvez. 
Mas foste sempre muito, e nunca serás pouco.

6 comentários:

  1. Este texto está perfeito e verdadeiramente lindo. Um dos melhores que alguma vez escreveste, não só pela nostalgia que se sente nas palavras, mas também pelo sentimento induzido nas mesmas. Que maravilha...

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  2. Está perfeito Inês! Adoro tudo o que escreves, a tua escrita é única e é isso que a torna tão bela

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  3. Está absolutamente lindo, parabéns!

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  4. obrigada! e tu também, continua, que a tua escrita está cada vez melhor

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  5. *.* tá tipo perfeito . Tens bué jeito, continua assim ! (:

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