27.5.12

o sabor da depressão

Prometi ao meu frágil coração despedaçado não tocar com a tinta gasta da caneta neste assunto, mas a sede de palavras obrigaram-me a depositar os meus sentimentos na minha, tão antiga, paixão.



Como uma esponja negra encharcada de sangue, espremeste o orgão, que sempre bateu por ti, como quem tira a vida a uma criança indefesa. Cada som por ti proferido pairou no ar, repetiu-se mil e uma vezes e deixou o eco a orbitar a minha mente.
O meu rosto, mais pálido do que mármore, deixa-se queimar pelas lágrimas que me escorrem na face. Sinto a pele desfazer-se e deixar transparecer quem realmente sou. Quem sempre fui e tentei esconder atrás de mil e um sorrisos, no medo a que este meu "eu" se revelasse no brilho do meu olhar. 
Enrolada no meu próprio corpo desprezível, sinto as palavras fluirem, arranhando as paredes do meu coração e arracando a pele de meu peito. As palavras doces e escorregadias como caramelo derretido, que me aqueciam o corpo da cabeça aos pés, transformaram-se em pregos negros e afiados, escuros e frios, que se espetam no peito com força, certeiros, e lá ficam a penetrar a minha carne. Toda eu sou dor e trevas, escuridão, morte. Toda eu estou envolvida numa aura negra como a noite, nem por isso minimamente bela, que me seca as células e extorce delas toda a vida. Não, não toda, tem o cuidado de deixar alguma para que continue a sofrer, para que a dor continue a torturar-me. Pior que doze meses sem sentir os olhos fecharem-se em descanso, pior que doze anos sem sentir o paladar de um alimento, pior que doze décadas sem uma gota do líquido transparente pelo qual matam e morrem . Pior que tudo o que alguma vez tive o desprazer de sentir, e já senti muita coisa.
Sozinha na imensidão do nada, devastada por memórias e ilusões, continuo à espera do que nunca acontecerá.

5 comentários: