20.1.12

scars - cap. II


Depois de quilómetros intermináveis de viagem, depois das malas atiradas à toa para debaixo de uma cama deprimente, que nunca seria a minha, decido dar uma vista de olhos pela cidade.
Passeio pelas ruas estreitas com os meus phones nos ouvidos. The Fight Song, da lenda Marilyn Manson, soa nos meus ouvidos o mais alto possível. Exprimo despreocupação, embora o meu interior seja permanentemente atacado por um turbilhão de sentimentos indecifráveis pelas outras pessoas, alguns até por mim.
Sinto-me apertada entre as casas demasiado juntas, demasiado alinhadas e demasiado idênticas. Sinto-me fora de casa, embora nunca tenha realmente sabido o que é estar em casa. Uma réstia de luz surge na escuridão da rua estreita. Ao início não consigo distinguir nada, com aquela luz brilhante a ofuscar-me a visão; mas pouco depois já distinguia... cores. Uma delas muito quente, com misturas de laranja, vermelho, branco, amarelo e rosa. Em baixo, frio, um tom de azul escuro, meio esverdeado, morto.
Não foi difícil de me aperceber que estava no cais da cidade. Bem, aquilo era muito diferente das ruas deprimentes que acabara de percorrer. Os barcos de todas as cores e feitios ondulavam calmamente, presos por cordas que não os deixavam ser levados pela maré. As gaivotas faziam aqueles barulhinhos irritantes, mas relaxantes, enquanto deixavam o vento acariciar-lhes as asas... É impossível negar a magnificiência deste cenário, mas nem qualquer pessoa se podia aperceber do seu tamanho...
A minha mediação é brutalmente interrompida quando sou atirada ao chão por o que penso ser um magnífico labrador bege.


 

- Alex! O que é que te deu? - admito que fiquei meio envergonhado - Precisas de ajuda miúda ? - perguntei, agora dirigindo-me a ela.
- Deixa lá.
Ela levanta-se sozinha, ignorando completamente a minha tentativa de a ajudar, com a mão estendida. Quando ergue a cabeça, sinto-me assombrado. É a rapariga mais bonita que os meus olhos alguma vez presenciaram. Tem olhos verdes, como duas esmeraldas brilhantes e enormes, escondendo mil e uma histórias atrás deles. Tem cabelo castanho, claro, liso e embaraçado, e uma pele pálida que, pelo menos, aparenta ser macia como as pétalas de uma rosa vermelha, daquelas cujo odor se sente a metros de distância, por serem tão cheirosas. Mas bastou um olhar para os seus olhos brilhantes para perceber que ela era diferente.
Usava um vestido negro, com renda na saia, e um casaco largo que lhe tapava metade das mãos, embora não estivesse frio. tinha um grande laço no cabelo. E não pude deixar de imaginar como seria aquele corpo, por debaixo de toda a roupa.
- Estás bem?
- Ya, não te preocupes.
- Então, - tento desesperadamente meter conversa - o que fazes aqui?
- Ando a ver as vistas, só...
- Não és muito faladora pois não?
Ela encolheu os ombros e olhou à volta, desconfortável. Tento mudar de estratégia:
- Desculpa, mais uma vez, o Alex não se costuma atirar assim às pessoas... Parece que gostou de ti!
- Não faz mal, é um cão lindíssimo. Dá para ver que tem uma personalidade, não como aqueles que se limitam a obedecer.
- Gostas de animais?
- Sempre são melhores que os humanos. Sim, gosto. Tenho pena de só ter um...
- Tens um cão?
- Iguana. Chama-se Elly e é uma espécie de companheira para mim.
- Interessante... Poucas são as raparigas que gostam dessa espécie de bichos...
- São animais.
- Sim, desculpa.
- Olha, tenho de ir, faz-se tarde. Adeus Alex! - disse ela, fazendo uma festa rápida na cabeça do meu cão - Adeus... hã...
- Tiago.
- Adeus Tiago.
Vejo-a desaparecer, rápida, mas suave, como o vento. Impossível deixar de pensar que esqueci a Letícia por, pelo menos, dez minutos.

5 comentários:

  1. de nada :)
    oh , linda és tu!

    gostei novamente :))

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  2. Desculpa já nao vinha ao pc a algum tempo; mas mal tive tempo vim logo ao teu blog :]
    A história está magnifica tal como eu esperava ; continua amor ♥
    beijinhos mafalda .

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