Assomam-se-me à mente memórias antigas, cristalinas da inocência que delas emana.
Lembro-me mais de ti do que de mim. Sei que me admiravas, via-te a olhar-me com orgulho. Éramos eu e tu e sempre foi assim, mas eu sempre te invejei. Ainda invejo. Nessa altura eu era forte e os meus ombros sustentavam as tuas lágrimas, agora já não é assim, tornei-me pequena mas continuo aqui, estou aqui. Nunca me vim a desculpar por tudo o que te fiz de cruel - e não faltam exemplos disso. De facto, acho que nunca me revoltei tanto contra uma pessoa como para contigo. Mas talvez tenha sido isso que sempre nos puxou mais ao encontro uma da outra. Não te vou mentir, houve tempos em que pensei que te perdera para o orgulho e fazias-me falta, sempre me fizeste falta. Lembro-me de cada palavra maldosa e de cada queixume melancólico, e penso agora que talvez fosse por isso que a tua irmã nunca gostou de mim, porque me seguias como a ela nunca seguiste, eu era a tua luz e estava sempre lá, guiava-te de volta ao caminho correto como um farol, estive sempre alerta, mesmo quando andavas longe. Eras a minha miúda, ainda és. És a irmã mais nova que nunca tive, e o teu coração é tão frágil que faz o meu partir-se se alguém to maltrata. Tens o sorriso mais belo e a gargalhada mais intensa, e foi contigo que partilhei os meus maiores segredos. Foste tu, sempre tu, a minha caixa de Pandora que nunca pode ser aberta por ninguém que não eu. Então peço-te, meu doce, fica comigo. E não duvides do meu amor, que te é eterno: és mais que tudo. Não penses que desceste uma categoria na minha consideração; no mínimo, subiste. Não te rotulo de melhor amiga porque crescer fez-me perceber que não é necessário. Tive a sorte de encontrar uma amizade como a tua que, mesmo que não acredites, valorizo mais que à minha própria vida. És um encanto, e encantas-me: continuas a encantar-me. As memórias, não as passo para papel porque as guardámos no coração, e isso chega, são só nossas. Como nós somos uma da outra e havemos de ser sempre.