21.5.13

sister


Assomam-se-me à mente memórias antigas, cristalinas da inocência que delas emana.
Lembro-me mais de ti do que de mim. Sei que me admiravas, via-te a olhar-me com orgulho. Éramos eu e tu e sempre foi assim, mas eu sempre te invejei. Ainda invejo. Nessa altura eu era forte e os meus ombros sustentavam as tuas lágrimas, agora já não é assim, tornei-me pequena mas continuo aqui, estou aqui. Nunca me vim a desculpar por tudo o que te fiz de cruel - e não faltam exemplos disso. De facto, acho que nunca me revoltei tanto contra uma pessoa como para contigo. Mas talvez tenha sido isso que sempre nos puxou mais ao encontro uma da outra. Não te vou mentir, houve tempos em que pensei que te perdera para o orgulho e fazias-me falta, sempre me fizeste falta. Lembro-me de cada palavra maldosa e de cada queixume melancólico, e penso agora que talvez fosse por isso que a tua irmã nunca gostou de mim, porque me seguias como a ela nunca seguiste, eu era a tua luz e estava sempre lá, guiava-te de volta ao caminho correto como um farol, estive sempre alerta, mesmo quando andavas longe. Eras a minha miúda, ainda és. És a irmã mais nova que nunca tive, e o teu coração é tão frágil que faz o meu partir-se se alguém to maltrata. Tens o sorriso mais belo e a gargalhada mais intensa, e foi contigo que partilhei os meus maiores segredos. Foste tu, sempre tu, a minha caixa de Pandora que nunca pode ser aberta por ninguém que não eu. Então peço-te, meu doce, fica comigo. E não duvides do meu amor, que te é eterno: és mais que tudo. Não penses que desceste uma categoria na minha consideração; no mínimo, subiste. Não te rotulo de melhor amiga porque crescer fez-me perceber que não é necessário. Tive a sorte de encontrar uma amizade como a tua que, mesmo que não acredites, valorizo mais que à minha própria vida. És um encanto, e encantas-me: continuas a encantar-me. As memórias, não as passo para papel porque as guardámos no coração, e isso chega, são só nossas. Como nós somos uma da outra e havemos de ser sempre.

10.5.13

the memory remains


Ando sem vontade de escrever e menos ainda de viver. Anseio por me fechar a sete chaves numa torre bem alta onde ninguém me possa encontrar. Quero dormir. Dormir para sempre sem interrupções, porque a vida é demasiado cansativa... Tu és cansativo e deixas-me perdida e não gosto de me sentir assim, sem controlo sob as minhas ações, como se um fantasma enraivecido possuísse o meu corpo. E começo a ficar verdadeiramente farta de carregar o teu peso nos meus ombros, como se fosse meu dever continuar a amar alguém que tanto me fez sofrer. Não é. E se eu pudesse tomar as rédeas do meu coração, há muito te teria desviado do caminho. Mas não posso. Por isso continuo a viver na insatisfação de não te ter, mesmo não te querendo, mas desejando ter-te sem querer, faz algum sentido?
Nós nunca fizemos sentido. Éramos diferentes de todos e mesmo assim completávamo-nos e há coisas cuja beleza não tem explicação, nós éramos uma delas. Mas perdemos a nossa beleza. Eu tentei agarrar-me a ela e salvar-nos, sabes que tentei, mesmo quando já era impossível, e voltaria a fazê-lo. Faria tudo de novo, e tornaria a sofrer, sem sequer me importar, porque as minhas preces seriam finalmente atendidas, preces que rezei em vão a um Deus que não existe, preces essas que são apenas voltar a olhar os teus olhos cor de avelã de que eu tanto gostava. Mas e se os visse? O que faria? Era demasiada crueldade para comigo mesma, não voltes. Deixa-te estar, agora que te foste não tornes a regressar. Hei-de-te esquecer (nunca te esquecerei), mas entretanto deixo a minha mente voltar a ti enquanto ouço a nossa música e encosto a cabeça à janela do autocarro.